“Luz Obscura” Susana Sousa Dias, 2017.

A tua irmã só me tira de casa para os programas mais divertidos!! É sempre uma barrigada de riso!
Contexto: a tia Susana tem quatro documentários e eu vi-os todos, todos em sala menos o primeiro que é o único que não interessa (não é que não interesse, é que é... normal, habitual, confundível com outros 150 documentários que eu vi sobre a época)... com o segundo filme dela, o “Natureza Morta”, eu fiquei a saber que estamos perante a melhor documentarista da geração; com o terceiro, o “48” eu vi a primeira ENORME obra-prima de documentário portuguesa do meu tempo. Foi contentinho que fui a caminho do Loreto, apesar de saber o que me esperava (a Susana Sousa Dias faz o Canijo parecer os irmãos Marx.. e eu preparo-me psicologicamente para ir ver o Canijo!).
Mas este é demais! O foco é na infância dos três filhos do Octávio Pato (ilustre resistente e grande do PCP), entre a clandestinidade da resistência e as prisões da PIDE, a tortura e o silêncio, o não conhecerem o pai sem barras e não saberem quem é a mãe nem quantos irmãos são ao todo...
Factualmente não me choca porque eu conheço a panóplia de horrores que foi a resistência ao fascismo... mas a tia Susana usa todos os recursos da arte para tornar a narrativa ainda mais insuportável: écrans negros com arfares sonoros de quem tenta não chorar antes do “depoimento”; ondas em câmara lenta em negativo; longos fade-ins para o entulho por cima de vozes a tentar não quebrar psicologicamente; as habituais fotografias de processo da PIDE filmadas em sucessivos planos apertados... isto é um documentário de terror.
E não é que eu esteja a pedir um “final feliz” (embora, tecnicamente, a história de horror dos Patos a tenha tido... a resistência venceu, o sacrifício deu fruto), não estou; mas eu sei como um traumatizado conta a sua história... ele próprio sente a necessidade imperiosa de aliviar a tensão do que está a ser narrado (às vezes de maneira estonteantemente canhestra) mas a tia Susana edita tudo isso fora (e eu sei que isso estava lá, necessariamente) para nos construir um monstro de 1 hora e 1 quarto que é uma pedra crescente a apertar-nos o peito cada vez mais estreitamente durante 1 hora e 1 quarto...
brilhante mas INSUPORTÁVEL.

Comentários

  1. Fui ver no último domingo. Começou meia hora depois do agendado, o que me permitiu aturar um daqueles velhos chatinhos, que metem conversa sem sequer teres olhado para eles, sabes? Para além disso, falava baixo e nada de interessante me soube contar porque, como ele próprio disse "eu sou muito inculto, por isso vim ver este filme. Na altura eu fui para a guerra, em Angola, mas eu não percebia nada do que se estava a passar, nunca percebi política"... foi uma pena!
    Com o atraso e a aula às 9h do dia seguinte, acabei por não poder ficar para o debate com a realizadora. Em relação ao documentário, ao início estranhei aquelas ondas sem fim e o inspirar da mulher sempre que ia falar, mas acabei por perceber que não era uma forma de introdução e fiz o shift. De resto, concordo contigo. Tive receio de me entediar, mas realmente não era preciso mais nada para inspirar um certo "terror".

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  2. Entretanto, vi bastantes documentários noos últimos dias, curiosamente! Fui ver ao Passos Manuel o "não consegues criar o mundo duas vezes", sobre o hip-hop do Porto, com um par da estrelas mc's a assistir (os meus colegas estavam doidos). Foi interessante para conhecer melhor, mas era enorme!
    Na mesma sala vi o "Faithful", igualmente enriquecedor, com a abertura de uma curta amadora, autêntica e "necessáia" (não é bem isto)- "why it's difficult to make films in kurdistan".
    Ontem fui à Casa da Artes ver o "Gimme Danger". Tinha uma dinâmica leve, engraçada. Por vezes fiquei confusa, mas é possível que também seja por ter a cabeça a mil com coisas para fazer.

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