“The Keepers” Ryan White, 2017.
Eu tenho um problema qualquer e é por isso que tenho queda
para o cheap thrill do género true crime... quando construído com a mestria
cinematográfica que este camarada tem chega quase a ser respirável.
Esta é a história duma mana assassinada em 1969 e de que
ainda não sabemos muito bem o quem, nem o como, embora desconfiemos muito do
porquê...
Eu sempre intuí que o horror se olha de frente para não se
transformar em terror... o horror é externo aqui, o terror interno; o horror é
a barbárie que acontece no mundo, o terror aquilo que sentimos quando
confrontados com o horror, e o ponto é que eu sempre achei que quanto mais de
frente nos confrontarmos com o horror menos poder o terror tem sobre nós.
Isto é uma história medonha, e vai ficando cada vez mais
medonha a cada camada de cebola descascada, de tal maneira que às tantas não
sabemos exactamente qual é a razão de queixa tal é a sova emocional que a
realidade (o horror) nos dá.
Cinematograficamente está muito perto da obra-prima neste
estilo de documentarismo televisivo longo (muito influenciado pelos podcasts)
que os americanos inventaram e agora reinventaram.
Filosoficamente só me empurrou mais 200 ou 300 metros no meu
feroz anti-clericalismo; a Santa Madre é mesmo só e basicamente uma força do
Mal, do Dark Side! Não há carcaças com manteiga e fiambre distribuídas aos
pobrezinhos que cheguem para se lavarem do sofrimento atroz e traumatizante que
rotineiramente, quotidianamente, calma e sossegadamente espalham pelo mundo; um
cortejo de horror, por mais que o Chico
se esbulhe com o direito canónico.
A ver, mas só para os de estômago calejado:
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