“Le Furet” Jean Ollivier & Eduardo Teixeira Coelho, 1975/76.

E depois apanho esta preciosidade! A dupla de sucesso de que já te falei antes aqui e aqui volta a atacar com “le furet”: o furão!
O Furão é originalmente publicado na “Pif Gadget” nos 70s (com o nosso grande ETC a assinar Martin Sièvre para parecer francês) e cria um magnífico meio anti-herói neste ladrão bonitão, meio Robin dos Bosques meio James Bond (enquanto agente do Luís XI, o “aranha universal”, que diga-se tem óptima imprensa por parte do Ollivier) com muitos pozinhos de Arsène Lupin.
Isto é magnífico!! A melhor coisa que vi do ETC e isso incluindo o “Decameron”... o pormenor e o movimento são de deixar um gajo de boca à banda! As referências e o cuidado histórico são simultaneamente constantes e malandrecos (montes de piscares de olhos ao Bruegel e ao Bosch e ao Dürer e ao Nuno Gonçalves e a mais vinte de que eu nem me lembro os nomes mas que reconheci quando vi...)... aqui sim, vi o medalha de prata da geração dele a roer não os calcanhares, mas os joelhos, a cintura ao medalha de ouro (ainda o Vítor Péon).
No fim sobra-me o gosto de saber que há um terceiro volume que ainda não apanhei e o mistério da repetida referência à Pont-Neuf em Paris, quando é evidente que estes dois (os autores) são demasiado finos para uma escorregadela destas: a acção passa-se no reinado do Luís XI (1461-83) e a Pont-Neuf só começa a ser construída em 1578. A ser acabada em 1607 debaixo do reinado do Henrique IV (8 reis depois portanto)... e não dá para errar porque a porra da ponte tem uma estátua do Henrique IV em cima e toda a gente em Paris sabe a piadinha de como a Pont-Neuf (literalmente a “ponte nova”) é a mais antiga de Paris: nova porque foi a primeira em alvenaria, a mais antiga porque todas as anteriores eram em madeira e entretanto desapareceram...
há aqui coisa, mas é daquelas que às tantas só as viúvas do Ollivier e do ETC é que sabem.

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