Zorro no “Charlie Hebdo”.

Ainda no Funchal a apanhar pó resolvo, como de costume, comprar o jornal local mas tropeço no quiosque com um “Charlie Hebdo” só com 50% de aumento do preço de capa e só com uma semana de atraso... claro que já não houve nada para a imprensa regional!

Estou muito bem a lê-lo no quase absurdo Jardim Municipal, quando topo uma página com mais de um desenho dum traço que eu conheço de gingeira, e eu conheço os mestres, e este pode bem vir assinado “Zorro” o que é óbvia laracha, mas eu seja ceguinho se isto não saiu da mão do Boucq (que com o Bourgeon e o David B, são a trindade viva de mestres completos e absolutos)... ora o tio François é demasiado grande para desenhar para o jornal mas como diz o povo: pelo andar dos bois se vê o peso da carroça (não ligues, isto é do Torga..).

Tive de esperar algumas 12 horas até voltar ao continente e à internet mas lá levantei a ficha à situação... então aparentemente o Boucq era amigo, mesmo muito amigo, do meu querido Cabu, que o andou a moer durante anos para desenhar qualquer coisa para o Charlie, mas o outro que não, que já tinha que chegasse trolaró (eu disse, o Boucq é demasiado grande para desenhar para jornais)... no meio do trauma colectivo que foi a matança do Charlie o trauma do Boucq foi bem mais pessoal porque lhe mataram o amigo. E o tipo decide começar a colaborar com o jornal (com mais um monte de desenhadores na altura)... aparentemente a família n’était pas très chaud (que é como quem diz que não achou a ideia espectacular) mas ele prometeu que assinava com um pseudónimo e só desenhava sobre ambientalismo (o que supostamente dá menos morte aos desenhadores) e a malta lá de casa lá engoliu a pastilha... sendo que o pseudónimo escolhido foi “Zorro”, o pseudónimo mais farfelue possível e no número que eu comprei já estava a ilustrar (com muitos dentes) o essencialismo bacoco do anti-racismo do Lilian Thuram, por isso muito longe do ambientalismo prometido...

Parece que por cada um que os cabrões abatem, se levanta outro maior.

 

Legenda da ilustração: à direita o Cabu, à esquerda o Boucq, no centro um desenho do segundo o primeiro a dizer “Para! Que ainda me estragas o desenho.”   


 

Comentários