A Filomena e a Uber Eats.

Vejo o anúncio (o novo, o especial, o primeiro para o “mercado nacional” como a imprensa especializada se vem nas calcinhas a propagar) e francamente estou tão calejado de cinismo que se estás à espera de indignação moral desengana-te.

A Filomena (com o Herman a cavalo) a vender o derreter das relações laborais admira-me tanto como o Ricardo Araújo Pereira (a ínclita face da esquerda nacional) a vender tudo de torradeiras a cerveja a nacionalismo banal...

Se isto fosse um zero-sum game só ficávamos com o Bill Hicks (que pelo menos o Ricardo gosta mais de citar do que ouvir) que tinha posições muito simples (simplistas diriam os inteligentes) sobre publicidade... mas a malta tem casas, e filhos e cães e férias em Bora Bora com voos em 1ª classe para sustentar e isto é tudo mais complexo do que parece e eu também estou para aqui a mandar postas de pescada acabadinho de chegar de trabalhar para a Associação Portuguesa de Bancos o que, em termos de imperativos morais kantianos, fica entre ser incendiário profissional ou revender comida para bebé falsificada com mercúrio em termos de serviço à comunidade, por isso...

Por isso nem é por aí... o que me faz confusão tem muito mais a ver com a piada involuntária que é cada realizador ianque a filmar perseguições em Paris (em que o carro passa à porta da Notre Dame, curva à esquerda passa por debaixo da Torre Eiffel, desce ao Sacré-Coeur e no mesmo minuto trava em frente ao Mont Saint-Michel) que é como quem diz que, independentemente de todo o resto do disparate a geografia não faz sentido...

Então a Filomena está de bicla no Campo Pequeno virada para a João XXI e a av. de Roma, chateia lá os moços e segue, corte e está a descer a r. da Misericórdia em frente ao Cauteleiro, corte e está a sair da Andrade Corvo para a Fontes Pereira de Melo (ao lado do Villaret) onde tropeça no Herman... isto é uma volta do caralho e absurdamente ilógica (devia ter atropelado o Herman na Fontes Pereira de Melo entre o Campo Pequeno e o Bairro Alto, sempre escusava de voltar para trás)... isto são uns valentes quilómetros a subir e a descer morro acima e morro abaixo e a Filomena nem sua uma camada de maquilhagem a pedalar...

realmente trabalhar para a UberEats, “trabalhar para”?! tens cada uma!

realmente ser “colaborador” “parceiro” da UberEats é uma espécie de prazer atlético; é quase estranho pagarem-te... ahh espera..


 

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