"Rapture" Ai Weiwei, 2021.

Tu estavas lá por isso curto e grosso:

menos plástico (pop) do que temia... mesmo assim continuo a ter um problema fundo com o artista que em vez de fazer manda fazer, o artista que pensa e encomenda, o artista que não é artesão; eu ainda me sinto culpado por comprar as tintas em vez de as fazer, quanto mais.

Mas depois duma semana a remoer lembro-me que isto só é um problema hoje em dia, no antigamente já tínhamos solução para o dilema: no antigamente dizemos "isto é um Rubens" e "isto é do atelier do Rubens" (quando são os minions, debaixo da férula do mestre, a completar as encomendas), chega-se ao ponto de distinguir muito bem o que, num dado trabalho, foi claramente feito pelo mestre e o que foi feito pelos aprendizes.

E isto ainda assim era menos ofensivo do que o que acontece hoje, porque ao menos os aprendizes estavam numa situação de grumete, que eventualmente se esperava que pudesse chegar a oficial da arte. Isto agora é subempreitada em subemprego, pago à peça como nos fabricos dos maus velhos tempos "o Ai desafiou os bacanos não sei daonde que sempre fizeram estes papagaios em 2 dimensões a fazê-las em 3... assinado Weiwei" onde é que temos os nomes ou o reconhecimento euro-esclarecido aos bacanos que fizeram a coisa, lá na trincheira, com as mãozinhas treinadas deles? (já para não falar na tarifa que algum ricaço branco pagará)

E quem diz os fabricantes de papagaios, corticeiros, vidreiros, ceramistas e canteiros do Weiwei; diz as velhinhas tricotadeiras da Joana Vasconcelos ou os metalúrgicos do Jeff Koons... aaahhh mas eles têm as ideias, pois ideias tenho eu às 3 por dia e isso não me ensina a fazer papagaios em balsa e seda que são absurdas obras primas...

a partir de agora vou começar a preceder com "da oficina de" todo e qualquer trabalho deste tipo de jeitoso... é só justo.

E de toda a maneira a declaração do dia tem de continuar a ser "sim, ele tem variedade, mas cá uma tendência para o dedo do meio!".


 

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