Adelino Fernando de Oliveira Matoso +2022 Requiescat In Pace.

Morreu-se-me, ao longe e silenciosamente por uma vez, de complicações da covid e já em Novembro passado (comigo a só saber agora) o grande Matoso (só um t porque o velho Adelino era uma fera poveira de Aveiro e não um menino de Lisboa).

Tive dois mamíferos que me ensinaram a dar aulas e foram os dois na minha primeira sala de professores (tu mal acabada de nascer, e eu boneco de fato, cabelo preto, muito magrinho e cara de bebé), uma sala raramente divertida (foram 20 anos até encontrar outra onde a malta se risse + do q geme).

O Pousinho ensinou-me a baixar o tom até eles se porem a calar uns os outros, ensinou-me a ser maternal e a parar tudo se há um que se está a escorregar por uma razão ou outra... o Matoso era outra coisa, o Matoso era um Yang muito, mas mesmo muito Yang!

O Matoso ensinou-me a gritar (as aulas dele ouviam-se a 2 salas de distância, tudo bem que as paredes eram tabique, mas mesmo assim..), a dar pontapés nas paredes e nos caixotes de lixo e a levantar a mesa só um bocadinho antes da deixar cair só para calar a turma. O Matoso ensinou-me que a sala é minha, eu sei que sei porque para mim a aula começou muito muito muito antes de entrarmos na sala, e para quem não está bem há sempre a possibilidade de defenestração.

O tio Adelino era um mestre, sobre lá a merda dele um poço de erudição, socialmente um esquerdista medroso que assobiava “A Internacional” enquanto mijava mas depois nos pedia para não dizermos ao chefe, um graxista com quem tínhamos de ter cuidado, um predador oportunista da transferência que volta e meia acontece dentro da sala de aulas.

Mas adorável, alguém a quem devo metade da minha pobre, mas calejada, pedagogia.

Absolutamente “problemático” como os outros humanos todos e a mim me incluo, o meu amor e gratidão nem tanto.

O pó te seja leve Adelino.


 

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