Algarve e Andaluzia e su discografía.

O + telegraficamente possível, até porque para metade estavas lá:

A air-fryer de duas mãos do mano Rui, a água mais fria do que na Caparica (mas às vezes com ondas), o Luke deitadão com as patas para trás e o Chico a ferrá-lo às vezes só porque sim, os pezinhos pelados da tua sobrinha, a Conceição mãe da São mais ou menos perdida, a Barbie, o surfista sul-africano do barco e as dentuças feministas da tua mana, o urbanismo anarquizado (no bom e mau sentido da palavra) da ilha do Farol, tu permanentemente a trabalhar, a fotografia da cozinha bonita do teu pai da Rafaela permanentemente a trabalhar-me na cabeça (o artista é um fingidor!), as aulas de inglês da tua sobrinha “thirty, three, theatre, think, thick, thin, thunder!”; e passamos o risco: Sevilha (como diria a Adília) quem não viu Sevilha, não viu maravilha: alameda do Hércules, um duche maior que um apartamento, não vamos à Torre del Oro a não ser para estacionar, um quilómetro para a frente e outro para trás, rua do Jesus del Gran Poder, duas voltas à Catedral, a maravilha que é o Alcazar, subir à Giralda e montes e montes de santas (uma mana mesmo muito sinistra), churros de pequeno-almoço, começar a habituar-nos a jantar tapeando, quando fresco só 40°, nem à noite dá para respirar, salmorejo a todas as refeições que eu insisto em pronunciar “SALMÔNÉRRO!!” (sem ser em castelhano mas muito à espanhola); Córdoba: o carro ao sol a dar 48°, compro uma oitavada (de 6) porque o meu panamá finalmente desfaz-se e nada na livraria muito simpática da Claudio Marcelo, bebo sucessivos cafés solos em frente ao Ayuntamento na San Pablo contente por já os saberem tirar apesar de os continuarem a servir em copos de bagaço, a tua sobrinha engraça de tal maneira com o pizzaiolo da Plaza de los Bañuelos que (na nossa recusa de deixar gorjeta) lhe deixa um guardanapo com agradecimentos em espanhol, somos apanhados pela sesta e vemo-nos obrigados a almoçar num 100 Montaditos (o pior que comemos), embebemo-nos na loucura de camadas sucessivas que é a Mesquita-Catedral, a começar no mirab e acabar nos anjinhos a fazer parkour do centro barroco, um toiro embalsamado no meio duma loja, a tua mana sofre um surto consumista entre a azulejaria moçárabe, jantar muito local num pátio coberto; Granada: montes de sinais a apontar para a neve enquanto nos derretemos à sombra, Carmelita Dinamita (esclarece-se à frente), uma volta à catedral e jantar no fresco a ver os bifes na esplanada a ser aspergidos, de volta à Plaza de las Pasiegas para ver umas mocinhas a cantar e comer helados, dia mais quente do ano na península e nós no frescor de água corrente que é a Alhambra al-hamrã a vermelha, o medonho palácio do imperador, o funcional castelo dos reis e o sucessivamente maravilhoso palácio dos sultões, emires e califas da capital do Al-Andalus... finalmente o Generalife jannat al-‘aríf o Jardim do Arquitecto a maravilha das maravilhas que com toda a água a correr fez do mais quente dos dias, um perfeitamente aceitável, à noite chinês com pan chino e com montes de chineses a dizerem-nos adeus à saída, gelado de pequeno-almoço, gomas gigantes e esperar que o moço das empanadas argentinas se decida a abrir a loja, catedral, a casa-de-banho mais limpa e modernaça que vi no público, estrada afora, parador no meio do nada, mal peço um café grande festa “portugués!” mais limpinho e escorreito que os da minha infância, mesmo assim presuntos a pingar e a cabeça dum toiro embalsamada a sair da parede, Ronda linda mas absurda, Jerez a tua sobrinha finalmente no Mercadona, estacionar na Rinchoa e mais tapas (eu começo a derivar para a porción), em Cádiz já espanholados, nem vamos à catedral, museu grátis como se fossemos de lá, aprendo que tabaco de enrolar é de liar, vamos à praia em Puerto de Santa Maria o habitual prato de sopa do Mediterrâneo, a tua irmã adora, a tua sobrinha captura uma família inteira de Freds (Feds! como o Lorca, insisto impotente), jantamos lá, no meio duma barulhada espanhola que finalmente me quebra e me dá saudades da maneira muito específica como somos um povo trombudo, mas ao menos discreto, manhã seguinte feira de Jerez, a tua irmã compra figos e pimentos à Tomasa, últimos churros de desayuno, estrada, almoço aspergido de tapas em Huelva, grandes e baratas doses no mercado longe dos turistas, saco uns picos para comer em Lisboa. Passamos o risco para cá... não cheguei a comer mal mesmo (os 100 Montaditos não contam, o pão está a miséria de sempre, a situação do café ligeiramente melhor apesar do ainda inevitável copinho de bagaço).

Banda-sonora, aproveito o Spotify da tua irmã para explorar o local e converto-me. Nunca vai ser o recurso principal para chegar à música, mas como mecanismo de busca parece-me com muita utilidade, mas dizia, banda-sonora andaluza: Antonio Fernández Diáz dito “Fosforito” coroa do flamenco cordobés; Antonio Mairena o gigante cigano de Mairena (e sósia do engenheiro Salgueiro); Carmelita Dinamita punk burguês (licenciada em Filologia Hispânica e Estudos Ingleses) de Granada; as Kill Flora, que são argentinas mas o Spotify é burro e se estás a ouvir em espanhol toma lá disto e foi uma sorte porque são óptimas; e finalmente os La Plazuela “el Indio” e “el Nitro”, uns chungas de Granada com a música mais misturada e divertida que vi desde o Conan Osíris e estes servem de apontamento para a discografia CDXCII, CDXCIII, CDXCIV, CDXCV e CDXCVI.                       


 

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