“Rebellion” 5 episódios, 2016.

 

E em 2016 a RTÉ resolveu meter o dinheiro todo possível numa mini-série comemorativa dos 100 anos do Levantamento da Páscoa (Éirí Amach na Cásca).

Deu merda necessariamente porque houve historiadores a queixarem-se de como exactamente morreu o sô guarda O’Brien no portão do Castle (porque como sabemos quem ensina História são as mini-séries televisivas e não os professores que se queixam das mini-séries televisivas); mais os dramas políticos por a série dar umas valentes dentadas no Éamon de Valera, para todos efeitos ainda um herói indiscutível do Sinn Féin.

Eu vejo-os. A escolha é clara, encher narrativamente personagens imaginadas para retratar toda a complexidade e complicação e contradições do momento, respeitando e trabalhando dentro da realidade histórica conhecida.

E arranjamos uma família miserável com um irmão no front ao serviço do Império e outro no ICA do James Connolly e uma cunhada muito católica e uma sobrinha um pouco menos; uns ricaços ele protestante e ela católica mas muito leal a sua majestade e aos bons costumes (a maravilhosa Michelle Fairley) com um filho malandro quase adorável (o Michael Ford-FitzGerald a puxar o Terry-Thomas para a realidade num trabalho de antologia) e uma filha idealista para além de Mary Sue, fora o tio padre uma perna cá uma perna lá; mais a boa moça irlandesa (e máximo pedaço de mau caminho da série: a Sarah Greene de May) grávida do administrador colonial inglês, e a mulher-menina-da-Linha dele; mais a bastarda feminista (ligeiramente) lésbica pronta a ir para além dos idealismos do Pádraig Pearse e a abater um pide debaixo duma ponte (prefigurando o camarada Michael Collins), mais as complexidades entre um sul católico e republicano e o Black North...

O retrato dum levantamento de malucos, uma revolução de poetas com mais discursos de vitória (“nos últimos três dias a república irlandesa enfrentou o maior império da Terra!”) e terços rezados debaixo do fogo de artilharia ligeira do que outra coisa que a criação dum monte de mártires...

um monte de mártires que haveria de alimentar a guerra do século seguinte.

Isto é muito bom, para além de mto bom, isto mostra a complicação que os irlandeses ainda lá têm.

A ser a minha história e não a deles se calhar também me queixava de como exactamente foi abatido o sô guarda O’Brien à porta do Castle; mas não sendo...

isto é o melhor que já vi ser feito como narrativa televisiva histórica: fazer uma novela que mostre toda a complexidade da situação sócio-política e bazilá-la com a História que sabemos.

E bem actuado.

Pedir mais é de malucos.

https://www.youtube.com/watch?v=INtDFn26Tgo


 

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