HISTÓRIA DE PORTUGAL MODERNO 2 - A Demografia do Portugal Moderno (séculos XVI – XVIII).

Tema

TEMA 3 - A ESTRUTURA ECONÓMICA

Objetivos

  • Analisar as variações demográficas verificadas ao longo da época Moderna, em Portugal;

  • Analisar os contrastes regionais da demografia portuguesa, na época Moderna;

  • Analisar o processo de urbanização português, na época Moderna;

  • Retirar conclusões a partir de dados fornecidos e incorporar essas mesmas conclusões na análise produzida.

 

TRABALHO: A Demografia do Portugal Moderno (séculos XVI – XVIII).

 

O início da Idade Moderna, em Portugal, corresponde ao fim de pelo menos 2 séculos de depressão demográfica; uns séculos XIV e XV marcados pelos efeitos combinados de sucessivas vagas de peste, cíclicas crises de produção agrícola e intermitentes guerras[i] que, afectando o pequeno reino escassamente povoado que era Portugal (a representar cerca de 2% da população europeia)[ii], por 1500, começam a dar sinais de recuo e espaço para uma recuperação da recessão demográfica[iii]. Os próximos trezentos anos serão, como vemos na comparação dos quadros 3 e 30, de crescimento demográfico, mas um crescimento marcado por ritmos moderados em ciclos de média e curta duração, a que correspondem pontuais avanços e recuos populacionais[iv].

O século XVI português vê-se marcado por um aumento populacional notável pelo menos até 1580 e moderado entre essa data e o primeiro quinto do séc. XVI; moderado por sucessivas crises de mortalidade, especialmente graves em 1596 e em 1603 porque aliam maus anos agrícolas e surtos epidémicos. Um século marcado por umas natalidade e mortalidade altíssimas, em que a emigração não é uma variável secundária despiciente[v], em que a doença é um fenómeno quotidiano e agravado pela crónica carência nutricional e encontramos idades de casamento tardias e elevadas percentagens de celibatários[vi]; mas mesmo assim um século em que Portugal cresce acima da média europeia[vii]. Durante o séc. XVII Portugal vai na generalidade acompanhar a média europeia, que é uma de inversão de tendência e estagnação demográfica (quando não mesmo despovoamento, como no caso de Castela): ao abrandamento até 1620 sucede-se uma estagnação que durará até ao meio século, seguido dum surto de crescimento na ordem dos 0.43% (só comparável aos valores alemães)[viii]. Finalmente, no séc. XVIII, o reino vai, como vemos no quadro 30, crescer em cerca de um terço, novamente acompanhando uma tendência continental de suavização dos efeitos epidémicos num contexto de anos de clima favorável; mas não vai crescer de forma regular e uniforme. Portugal começa o século com três décadas de recessão populacional, antes de mais causada pelo impulso imigratório que se segue à descoberta do ouro no Brasil (com saídas estimadas até 10 mil indivíduos/ano); seguir-se-ão três décadas de crescimento sedimentado e finalmente um último terço de século em aumento desacelerado[ix], marcado pelo que podemos chamar crises de tipo misto[x], ou seja as que combinam maus anos agrícolas, epidemias mortais e o recrutamento de homens em idade activa para serviço militar; resultando globalmente num século em que Portugal cresce, mas mais lentamente que o resto da Europa.

Mas esta visão global, não dá conta dos grandes contrastes e desequilíbrios internos que vão criar demografias regionais a partir de realidades muito diferentes em termos de densidade e distribuição populacionais, em grande medida herdeiras dos traços do povoamento de séculos anteriores[xi]. Assim partimos, por exemplo, como podemos verificar no quadro 4, com um Minho densamente povoadíssimo (quase 20% da população em 8% da superfície) e um Sul despovoado (quase a mesma população a ocupar um terço da área total do reino); por um séc. XVII caracterizado por um crescimento geral, mas desigual, em que a Beira e Trás-os-Montes vêem as percentagens de fogos descer em benefício duma lenta, mas segura, litoralização a favor do Entre-Douro-e-Minho e da Estremadura[xii]. Para chegarmos a um séc. XVIII cuja recessão inicial afecta desproporcionalmente o Sul: o Alentejo perde um quarto da população em 30 anos (Cuba 40% em 26)[xiii] entre guerra, maus anos agrícolas, pestes mais graves em povoamento concentrado[xiv] e a atração do ouro brasileiro; enquanto a “revolução do milho” e a riqueza relativa dos minhotos, como vemos no quadro 32 para 1800, os alcandora a 25% do todo nacional (densidade de 100 habitantes/ km²)[xv].

Finalmente, Portugal vai neste período sofrer um processo de urbanização caracterizável como tímido[xvi]; partindo duma realidade onde Lisboa é já uma urbe a nível europeu, o resto do território mostra uma malha urbana nada homogénea com o Porto e Évora, seguidos decrescentemente por Santarém e Elvas, e logo Tavira, Guimarães, Coimbra, Lagos, Portalegre, Setúbal, Beja e Olivença[xvii]. Se inicialmente temos uma urbanização por adensamento de pequenos aglomerados assistiremos ao longo desta época a uma estabilização da urbanização pela concentração populacional nas cidades maiores, como é visível especialmente para Entre-Douro-e-Minho, Estremadura e Alentejo na comparação dos quadros 25 e 33. A macrocefalia lisboeta reforça-se a atingir os 170 mil habitantes (6% da população total do reino), sendo que a “novidade” setecentista é o rápido crescimento do Porto (148%), com o incentivo de ser a escápula da produção vinhateira, esboçando pela primeira vez uma bipolaridade ao sistema urbano nacional[xviii], enquanto temos um real recuo da urbanização no Alentejo, Beira e Minho. Mantendo-se assim as assimetrias regionais, pois apesar do crescimento dos centros urbanos, as proporções mantêm-se, não só pela menor taxa de crescimento da população urbana em relação à geral, como devido também à distorção introduzida pelos grandes crescimentos de Lisboa e do Porto[xix].      

 

Bibliografia

COSTA, Leonor Freire; LAINS, Pedro; MIRANDA, Susana Münch – História Económica de Portugal 1143 - 2010. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012 [2011].

RAMOS, Rui (coord.) – História de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2009.

RODRIGUES, Teresa Ferreira (coord.) – História da População Portuguesa – das longas permanências à conquista da modernidade. Porto: CEPESE / Edições Afrontamento, 2009.

SANTOS, Carlota – As Cidades Portuguesas na Idade Moderna – População. in Atas do I Congresso Histórico Internacional – As Cidades na História: População. Volume I – Conferências das Sessões Plenárias. s.l.: Câmara Municipal de Guimarães, 24 a 26 de Outubro de 2012, pp. 203 – 218.


[i] SANTOS, C. – As Cidades Portuguesas na Idade Moderna - População, p. 205.

[ii] RAMOS, R. – História de Portugal, p. 369.

[iii] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, p. 74.

[iv] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, p. 159.

[v] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, pp. 76 – 79.

[vi] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, p. 217; p. 170.

[vii] RAMOS, R. – História de Portugal, p. 369.

[viii] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, pp. 167 – 169.

[ix] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, pp. 212 – 213.

[x] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, p. 226.

[xi] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, p. 170.

[xii] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, p. 170.

[xiii] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, pp. 257 – 258.

[xiv] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, pp. 213 – 215.

[xv] RAMOS, R. – História de Portugal, p. 370.

[xvi] RODRIGUES, T.F. – História da População Portuguesa, p. 187.

[xvii] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, p. 82.

[xviii] COSTA, L.F.; LAINS, P.; MIRANDA, S.M. – História Económica de Portugal, pp. 216 – 218.

[xix] SANTOS, C. – As Cidades Portuguesas na Idade Moderna - População, p. 209.



 

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