PRÉ E PROTO-HISTÓRIA DE PORTUGAL 1 take 2 - O Megalitismo funerário do território português.


Trabalho a desenvolver

Na abordagem e consequente desenvolvimento do tema O Megalitismo funerário do território português”, devem ser tidos em consideração os seguintes tópicos:

1. sequências arquitectónicas;

2. e a sua correlação com os espólios respectivos, nas diversas áreas geográficas onde o megalitismo se encontra devidamente representado.

 

TRABALHO: O megalitismo funerário do território português.

Descrever o megalitismo funerário no que virá a ser Portugal é descrever um processo múltiplo e complexo, marcado por um particular polimorfismo arquitectónico[i] e eivado de incongruências de espólio resultantes tanto pela ausência duma evolução monofilética como da própria reutilização dos monumentos[ii].

Começando pelo Alentejo, esse inegável foco primordial do megalitismo europeu[iii], temos identificado, desde os trabalhos de Manuel Heleno e Irisalva Moita, uma evolução de sepulturas fechadas para pequenas galerias de antas só com câmara, para antas com câmara e corredor, terminando com antas de corredor longo, por vezes com átrio[iv]. Ou seja, dum monumento proto-megalítico como a Anta 2 do Torrão, um recinto fechado de planta elipsoidal com um espólio arcaizante[v], passamos a casos como a Anta 3 do Azinhal, uma anta pequena sem corredor datável da 1ª metade do V milénio a.C. onde encontramos machados de pedra polida, pequenas lâminas e raspadores e micrólitos trapezoidais[vi] ou a Anta 1 do Poço da Gateira, uma câmara alongada com um corredor curto, com machados pequenos e cerâmica lisa com engobe a almagre aspergida com ocre[vii]. Desta fase inicial do megalitismo alentejano chegar-se-á finalmente aos colossos dos finais do IV milénio a.C. como a Anta Grande do Zambujeiro ou a Anta Grande do Olival de Pega: túmulos de câmaras poligonais, com esteios que chegam aos 5 metros e corredores que ultrapassam os 10. Túmulos cujo espólio já inclui pontas de seta, centenas de recipientes e placas de xisto, para além de ídolos almerienses em osso[viii], báculos de xisto[ix] e vestígios do uso ritual de ocre vermelho e fogo[x].

Entretanto no Alto Ribatejo e no interior da Beira encontramos uma vontade de respeitar a evolução da tipologia alentejana apesar da dimensão dos monólitos de xisto e grauvaque locais não permitir a mesma escala[xi]. Na fase mais remota, pelos meados do V milénio a.C. temos sepulcros fechados elipsoidais, como a Anta 6 do Couto da Espanhola, onde encontramos machados de secção espessa, lamelas de sílex e geométricos[xii]; eventualmente teremos pequenas câmaras poligonais e corredores curtos, como a Anta 1 do Val do Laje, com um espólio que inclui trapézios, machados pequenos e cerâmica lisa[xiii]; e chegando ao apogeu regional casos como a Anta 2 do Couto da Espanhola (meados IV milénio a.C.), com uma câmara poligonal, um corredor longo e um espólio que já inclui pontas de seta de sílex, machados polidos e cerâmica carenada[xiv]. A fase final deste megalitismo, pelos meados do III milénio a.C., vai-nos oferecer monumentos de câmara sub-circular e provável cobertura em falsa cúpula, como a Anta 3 do Amieiro[xv], com vestígios de rituais com fogo[xvi].

Na Beira Alta o megalitismo compreende duas fases distintas, uma inicial dos finais do V milénio a.C. a meados do IV e uma segunda no fim do IV milénio a.C.[xvii]. Sendo que de “antelas” sem corredor (predominantes nos concelhos ocidentais) passamos a câmaras poligonais mais ou menos circulares com entrada (mas sem corredor), até finalmente câmaras poligonais com corredor diferenciado que podemos subdividir entre corredores desenvolvidos e curtos/incipientes[xviii]. Da mesma maneira dum espólio pobre e arcaizante com poucas excepções (como na Orca do Tanque ou a Pedra da Orca de Queiriga)[xix] como geométricos, lâminas sem retoque, enxós e machados polidos e contas de mineral verde passamos a uma segunda fase que já inclui alabardas de retoque bifacial, pontas de seta e lâminas[xx].

Já no norte, da costa duriense e minhota a Trás-os-Montes, a arqueologia permite-nos entrever uma sub-fase inicial A, dos meados do V milénio aos inícios do IV a.C., caracterizada por dólmenes simples (provavelmente fechados) com espólios arcaizantes de micrólitos, lâminas de sílex, machados e enxós, contas de xisto e variscite, mas ainda sem setas; e uma sub-fase B, dos inícios do IV milénio, com monumentos mais desenvolvidos, tecnicamente semelhantes mas maiores e sem diferenças quanto ao tipo de espólio[xxi]. A estas segue-se uma fase intermédia, da 2ª metade do IV milénio a.C., etapa posterior dos anteriores, que como no Dólmen 1 de Chã de Parada, já têm câmaras poligonais maiores e corredores monumentais, com espólios ainda arcaizantes, mas que já incluem pontas de setas. E finalmente uma fase final na passagem para o III milénio a.C., correspondente à transição para o Calcolítico, de pequenos monumentos pétreos que dificilmente podemos descrever como “megalíticos”[xxii].

No Litoral Centro temos um grande núcleo funerário que integra as antas de Monte-Abraão e Estria com câmara e galeria não diferenciadas, de monólitos de calcário, do tipo “galeria coberta”[xxiii]; que tal como as de Loures contêm espólios do Neolítico Final misturados (por reutilização) com os do Calcolítico: pontas de seta pedunculadas, alfinetes de cabeça postiça, taças lisas carenadas, contas verdes, alabardas de sílex e placas de xisto com o ídolo almeriense[xxiv].

Já no Algarve se na serra encontramos grandes antas de grauvaque com câmara e corredor (Masmorras, Curral da Castelhana) com espólio de enxós e machados polidos, lâminas, pontas de setas, adornos de pedra verde, cerâmicas lisas e xistos decorados; no litoral vamos ter pequenos dólmens poligonais de calcário com corredores curtos (Pedra Escorregadia) dos fins do IV milénio, inícios do III a.C.[xxv]. Fora isso temos o vasto complexo funerário polinucleado de Monchique, constituído por cistas fechadas de planta sub-rectangular e espólios que remetem para o Neolítico Final (pontas de seta de base côncava, lâminas retocadas, contas de colar e blocos de corante)[xxvi].     

 

             

Bibliografia

Livros

CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Lisboa: Universidade Aberta, 2007. ISBN 978-972-674-664-5.



[i] CARDOSO, J.L. – Pré-História de Portugal, p. 267.

[ii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 257.

[iii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 255.

[iv] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 257.

[v] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 257.

[vi] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 256.

[vii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 259.

[viii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 260.

[ix] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 262.

[x] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 263.

[xi] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 265.

[xii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 266.

[xiii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 265.

[xiv] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 266.

[xv] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 266.

[xvi] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 268.

[xvii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 270.

[xviii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 268.

[xix] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 269.

[xx] CARDOSO, J.L. cit. i, pp. 270-271.

[xxi] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 274.

[xxii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 275.

[xxiii] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 281.

[xxiv] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 282.

[xxv] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 284.

[xxvi] CARDOSO, J.L. cit. i, p. 285.


 

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