Pré e Proto-História de Portugal 2 take 1 - O Calcolítico do Sudoeste.

Trabalho a desenvolver

Na abordagem e consequente desenvolvimento deste tema, devem ser tidos em consideração aos seguintes tópicos:

1 O processo de transição do Neolítico Final para o Calcolítico, a sua fundamentação e datações absolutas;

2 O faseamento do Calcolítico do Sudoeste; a distribuição geográfica e a tipologia dos principais povoados; os artefactos arqueológicos mais característicos; as actividades económicas e a organização social. 

 

TRABALHO / RESOLUÇÃO: O Calcolítico do Sudoeste.

Olhar para o que foi a ocupação humana entre o fim do IV e o fim do III milénio a.C., na metade sul do que virá a ser Portugal, passa por fazer uso duma baliza temporal particularmente adequada[i] – o Calcolítico. Um Calcolítico que temos de definir para além do cobre, já que este surge mais como uma extensão, do que como causa da Revolução dos Produtos Secundários[ii]. Este processo gozou de uma vitalidade tal no Alentejo e Algarve, que a partir do trabalho de C. Tavares da Silva e J. Soares vemo-nos a falar dum Calcolítico do Sudoeste[iii], distinto do da Estremadura[iv] e absolutamente datável (95% de confiança) entre os 3094 a.C. do Escoural (Montemor-o-Novo)[v] e os 1855 a.C. da Fase 2 de Mercador (Mourão)[vi]. A ocupação coeva já conhecida distribui-se por todo o Alentejo e Algarve, com uma notória concentração de sítios entre Évora e a fronteira espanhola. Grande parte destas escavações apresentam provas de ocupação desde o Neolítico Final: como Cabeço da Mina (Torrão do Alentejo), Vale Pincel II (Sines)[vii], Torre do Esporão 3 e Perdigões (Reguengos de Monsaraz), Cabeço do Torrão (Elvas)[viii], Porto Torrão (Ferreira do Alentejo)[ix], Moinho de Valadares (Mourão)[x], Águas Frias (Alandroal), Torrão (Elvas) e Igreja Velha de S. Jorge (Ficalho)[xi]. Enquanto outras; como Monte Novo (Sines) e Cortadouro (Ourique)[xii], Alcalar (Portimão)[xiii], Monte Novo e Marco dos Albardeiros (Reguengos de Monsaraz)[xiv], Três Moinhos (Beja) e Monte da Tumba (Alcácer do Sal)[xv], Monte do Tosco I (Mourão)[xvi] e os Cerros da Corte de João Marques e do Castelo de Sta. Justa (Loulé)[xvii]; só revelam marcas de ocupação já calcolítica.

Os espaços ocupados tendem a ser altos e fortificados a seguir por estes povos, como no Cabeço da Mina, Monte Novo, Alcalar[xviii], os sítios dos Albardeiros em Reguengos[xix], o Cabeço do Torrão[xx], Monte da Tumba[xxi] ou o Cerro do Castelo de Sta. Justa[xxii]. Mas também se encontra ocupação em encostas mais suaves, como em Vale Pincel II[xxiii] ou Mercador[xxiv]; e até implantações em zonas totalmente planas: como em Torre do Esporão 3[xxv] ou Perdigões[xxvi]; parecendo o factor basilar para a escolha dos locais a ocupar o acesso a cursos de água e a terra especialmente fértil[xxvii]; com a possível excepção do Cerro do Castelo de Sta. Justa, onde a presença de cobre[xxviii] poderá ter sido determinante. A tipologia construtiva tendia a seguir o modelo da quinta fortificada[xxix], edificada à volta de bastiões semi-circulares como no Escoural[xxx], no Monte da Tumba[xxxi] ou no Cerro do Castelo de Sta. Justa[xxxii]; a proteger um espaço doméstico de casas de planta circular como em Porto das Carretas (Mourão)[xxxiii], que incluía o celeiro e o redil pecuário como o de Perdigões[xxxiv]. Centro habitacional e económico que depois era cercado por um complexo defensivo com muralhas concêntricas (como no Escoural[xxxv], Perdigões[xxxvi] ou em Porto das Carretas[xxxvii]) por vezes elipsoidais (como em Monte da Tumba[xxxviii] ou no Cerro do Castelo de Sta. Justa[xxxix]), e/ou fossos (como em Torre do Esporão 3[xl], Perdigões[xli], Porto Torrão[xlii] ou Águas Frias[xliii]) com ou sem paliçadas, mais perecíveis, mas das quais ainda reconhecemos os indícios (como em Torre do Esporão 3[xliv] ou Perdigões[xlv]). Mas respeitando a regra de que, mesmo em área cultural partilhada, a evolução dos povoados é independente[xlvi] encontramos um polimorfismo dos tipos de implantação e soluções de ocupação encontradas[xlvii]. Por vezes, na sombra destes complexos mais imponentes, encontramos outros sem defesas pétreas e mais facilmente dissimuláveis na paisagem, como Mercador[xlviii] ou Monte do Tosco I[xlix], abrindo naturalmente o debate para a possibilidade de complementaridade funcional entre povoados[l]. Quanto a espólio se ainda encontramos artefactos reminiscentes do Neolítico Final, como cerâmicas de formas carenadas (em Cabeço da Mina e Vale Pincel II[li], Torre do Esporão 3[lii], Cabeço do Torrão[liii] ou Porto Torrão[liv]) ou esféricas e mamiladas e elementos de tear sub-rectangulares (também Cabeço da Mina, Vale Pincel II e Cabeço do Torrão); a verdade é que o espólio varia e se diversifica com taças e pratos de bordo espessado (em Cabeço da Mina e Vale Pincel II[lv], Cabeço do Torrão[lvi], Porto das Carretas[lvii], Monte do Tosco I[lviii]), pratos de bordo almendrado (em Três Moinhos[lix] e no Monte da Tumba[lx]), elementos de tear de secção circular e arqueados (novamente em Três Moinhos, Porto das Carretas[lxi] e no Monte do Tosco I[lxii]), taças em calote (Porto das Carretas Fase 1), cerâmicas campaniformes (Porto das Carretas Fase 2) e finalmente artefactos em cobre (Monte Novo dos Albardeiros[lxiii], Mercador[lxiv] e Cerro do Castelo de Sta. Justa[lxv]).

O retrato que emerge de tudo isto, é o de um conjunto de sociedades já muito complexas, sedentarizadas e em completo domínio agro-pastoril da paisagem. Com divisão do trabalho, especialização e hierarquização social[lxvi]; que constroem uma ocupação do espaço perene, respeitando a regra de concentricidade do celeiro de Leroi-Gourhan[lxvii], e se vêem obrigadas a extraordinárias medidas de defesa, certamente por um grave e longo clima de instabilidade social e de conflito[lxviii]. Sociedades que mesmo assim conseguem crescer a impressionantes dimensões, como Porto Torrão entre 3035 e 2650 a.C.: cem hectares de ocupação defensável, milhares de habitantes, intercâmbio a pelo menos 60 quilómetros de distância[lxix]; realmente, por vezes, o peso do conhecimento ou desconhecimento da metalurgia do cobre empalidece face ao que descobrimos do chão.

 

Bibliografia

Livros

BLOCH, Marc – Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002 [1949].

CARDOSO, João Luís – Pré-História de Portugal. Lisboa: Universidade Aberta, 2007.

LEROI-GOURHAN, André – O Gesto e a Palavra 2 memória e ritmos. Lisboa: Edições 70, 1987 [1965].



[i] BLOCH, M. – A Apologia da História ou o ofício do historiador, pp. 149 – 150.

[ii] CARDOSO, J.L. – Pré-História de Portugal, p. 338.

[iii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[iv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 345.

[v] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[vi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 355.

[vii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[viii] CARDOSO, J.L. cit. ii, pp. 348 – 349.

[ix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 351.

[x] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 356.

[xi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 357.

[xii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[xiii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 359.

[xiv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 352.

[xvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 355.

[xvii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[xviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[xix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xx] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[xxi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 352.

[xxii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[xxiii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[xxiv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 354.

[xxv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xxvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 357.

[xxvii] CARDOSO, J.L. cit. ii, pp. 338 / 350 / 352.

[xxviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, pp. 358 – 359.

[xxix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[xxx] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xxxi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 352.

[xxxii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[xxxiii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 354.

[xxxiv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 350.

[xxxv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xxxvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[xxxvii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 353.

[xxxviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 352.

[xxxix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[xl] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xli] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[xlii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 351.

[xliii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 357.

[xliv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[xlv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[xlvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 323.

[xlvii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 356.

[xlviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 354.

[xlix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 355.

[l] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 356.

[li] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[lii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[liii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[liv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 351.

[lv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 346.

[lvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 349.

[lvii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 354.

[lviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 356.

[lix] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 352.

[lx] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 353.

[lxi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 354.

[lxii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 356.

[lxiii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 348.

[lxiv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 355.

[lxv] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 358.

[lxvi] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 333.

[lxvii] LEROI-GOURHAN, A. – O Gesto e a Palavra 2 memória e ritmos, p. 136.

[lxviii] CARDOSO, J.L. cit. ii, p. 353.

[lxix] CARDOSO, J.L. cit. ii, pp. 351 – 352.


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