“A Revolução de Maio” António Lopes Ribeiro, 1937.

Mostramos esta pérola negra à criança, com todas as camadas de desconstrução necessárias, 
porque são muitas.
Este filme é um filme totalmente desaparecido (eu já tinha pintelhos brancos a primeira vez que o vi, 
e farto de ouvir dizer pelo Reis Torgal e o Rosas) e com razões para o apagamento pela geração que o 
chutou para os fundilhos da Cinemateca (em rigor, o filme é tão fascista assumido que o marcelismo, 
o original não o do afilhado, já o tinha metido no pó muito muito antes das manhãs cantantes de Abril), 
porque o filme é muito muito muito bom.
Escrito por esse génio do mal que foi o António Ferro (continuo a dizer, o português mais importante 
de sempre que os portugueses nunca ouviram falar) e que se resguarda de aparecer nos créditos 
(porque o Ferro era um cabrão dum génio do mal), a narrativa é impressionamente complexa: um 
moço comuna volta a Lisboa para (nos 10 anos do Estado Novo), financiado a peso de ouro pela 
Rússia vermelha e ajudado por traidores e inúteis internos, provocar a guerra interna e interromper o 
sossego e progresso que o país tem gozado debaixo da preclara dupla Carmona/Botas. Por mais 
sanguinários os companheiros (que até a mãezinha matam por se meterem na política) e bem financiado 
o plano (pelos russos que cantam canções russas nas tipografias clandestinas), o moço acaba por se 
apaixonar por uma honesta mocinha situacionista e, debaixo da compaixão dum brilhante inspector 
da PVDE, é lhe permitida a redenção e reunião ao seio nacional “TUDO PELA NAÇÃO, NADA 
CONTRA A NAÇÃO!”.
Comédia romântica, procedural policial à alemã anos 20, momentos épicos à Eisenstein, entre Ferro e 
o Lopes Ribeiro toda a gente sabe o que está a fazer, espeta-lhe a Mª Clara a cantar umas cantigas 
(a única burrice táctica do Ferro foi o desprezo que tinha pelo fado) e o Botas a discursar um brilhante 
discurso em Braga e temos coisa. Eu francamente não sei (não sei porque isto não está trabalhado) o 
efeito deste filme na altura, mas isto é duma qualidade, que se era inconveniente em 1970 e perigoso em 
1975, hoje acho que é necessário... porque a puta da conversa, toda exprimida, é a mesma no André 
de 2025 que era no António de 1936.
https://www.youtube.com/watch?v=8HWAxHd9sTM
e se este cartaz não é dum tio da Marta, eu seja ceguinho.


 

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