Luzboa e novo CAM da Gulbenkian.
Férias e a tua mana tem todo um programa de vá-para-fora-de-autocarro – dia 1 almoço no Luzboa (a tua irmã é uma sedutora) tento aplicar a regra de escolher sempre o mais esquisito, que seriam as bochechas de porco com peras bêbadas, mas sou enganado pela “ucraniana” nos bifes de atum braseados com salada ucraniana... para depois levar com o facto de que a “salada ucraniana” é salada russa renomeada como “momento de solidariedade” (fui lixado pelo woke!!) e para mais se bem me lembro, a salada russa é invenção dum francês a viver na Rússia. Mas à frente... o CAM cresceu e agora tem espaço para respirar, vejo a pala debaixo de chuva a sério e vale o dinheiro todo que lhe meteram.
O espaço interior tem todo o espaço para os imediatos, inevitáveis, necessários poetas que não vão a lado nenhum (estou tão velho que já nem hesito, acelero logo, que as minhas perninhas são óptimas para andar na rua mas já se sofrem em passo de museu e os cabrões dos museus parecem cada vez maiores), mas comecemos pelo bicho: tens uma porra duma exposição que é uma conversa entre a Paula Rego e a Adriana Varejão e reacção minha imediata é “autoestima da porra!!” diria a tia Isabéu, parecia que estava a adivinhar. A Varejão é uma respeitadíssima brasileira (descubro no fim quando lhe levanto a ficha) que se aguenta como pode, e eu não quero parecer eurotrash, mas metes-te com os toiros e levas com os cornos, isto não é o Picasso a tentar falar com o Velázquez (que já correu mal que chegasse) é pior que isso. Num recorte da coisa tens a Adriana a fazer trinta por uma linha: a explodir azulejos e a sangrar no chão (mesmo que num asséptico azul) e em frente tens 3 (4 se contares o cadáver) retratos da Lila Nunes (alguém se lembre do nome da modelo da Paula, tive de desenterrar um artigo do Guardian para ter a certeza, foda-se este país tem um problema com toda a gente que não seja alta burguesia, que cansaço!) a contorcer-se e foi preciso agarrar os ombros à tua sobrinha (que estava mto impressionada com a espectacularidade da Varejão, ainda a pingar no chão) para a virar de frente e de detrás e lhe apontar que o silêncio escuro da tia Paula e do corpo quieto da Lila só dão a dimensão verdadeira do que é abortar com um cabide... nada de espectacular por mais que escorra pelo chão, a Varejão é boa gritando, a Paula são quinze chapadas no focinho, quando percebes até de doem os ouvidos e a cabrona está só silenciosamente a sorrir com aqueles dentes todos torcidos (teclado dum piano que caiu dum terceiro andar) que ela tinha. À saída ouço um pinoca brasileiro a explicar a umas dondocas paulistas que enquanto a Paula se preocupa com “estórias” a Varejão trabalha a “História” com H maiúsculo, ça va maestro, brilhante! (e não estou a cagar na Adriana, a tipa é fortíssima, o prato “Proposta para uma Catequese” 2014 é uma obra-prima!!)
Depois disto ainda temos direito a Reservas Visitáveis (coisa que eu adoro sempre)... cheias de Almadas (quão enorme e tardio é o Pessoa, 1964!!), Vieiras da Silva, Amadeos, etc. etc. e uma garota que a pedido nos puxa as gavetas para vermos e eu de boca aberta com um Júlio dos Reis Pereira que nem desconfiava “O Burguês e a Menina” 1931, fera do caralho! E o Tristany Mundu e o “Cidade à volta da Cidade” cuja parte de videoinstalação ou lá o que é não interessa nem ao menino jasus, mas... (estou a escrever enquanto estou a escavar): os ponchos de cetim com estampas (única parte interessante da coisa) não são dele mas do Rappepa Bedju Tempu, a brilhante fera que me espetou isto à porta do MAAT, ahhh :)
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