Apagão 2025.

Cai-se-nos a luz na escola e tudo continua + ou – normal porque não há professores do ensino público que não sejam todo-o-terreno, acabo à uma e as contínuas já agitam teorias da conspiração e eu deslizo fora e apanho o 754 normalmente, percebo que a coisa é séria quando vejo que não há semáforos ao mesmo tempo que me apercebo da imediata auto-organização de condutores e “peões”, subitamente cheios de paciência decoro e gentileza, passo a estrada do seminário cheia de obras, a boca da cova da moura, a rotunda da buraca, a estação de benfica, a curva do califa e a reentrada na estrada de benfica sem um apito nem um polícia, com todas as passadeiras respeitadas, com longos silenciosos conluios em cruzamentos com toda a gente cheia de vontade de ceder a prioridade (também chego basicamente à hora do costume a casa, portanto nem sequer se pode dizer que tenhamos perdido produtividade, mas não quero forçar a nota). O bairro está tomado de assalto consumista mas mesmo assim bastante calmo, os frangueiros fechados, o super-mercado a conta-gotas e o café euxarido, a água continua a correr pelo menos nos prédios baixos como o meu, venho para casa comer tostas, porque sem gaz não há tretinhas. Leio e durmo a sesta, a tua sobrinha pinta, conto as velas e a falta de pilhas que nos impede de ligar o rádio (a gáita) a tua irmã ainda compra feijão de fresco, fruta e vai ao carro ouvir as notícias, eu faço imensa salada, bacalhau de lata e chouriço assado a álcool, pão de pacote que uma vez não são vezes e velas às quatro de cada vez equilibradas em pratos de sobremesa. No resto da pilha do computador jantamos a ver o filme mas a meio do jantar começamos a ouvir barulho e no lusco-fusco vemos a luz à volta a aproximar-se (não chegámos a ter noite escura) às 9 e um quarto tínhamos luz, dez e meia, tv e net e tudo o resto. Tenho de comprar pilhas das gordas para a gaita.
 

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