“The Mists of Avalon” Marion Zimmer Bradley, 1983 (tb. “As Brumas de Avalon”).

Plena arturiana em pleno ataque e volto à inoculação original... li isto aos 16 na versão partida da Difel (“A Senhora da Magia” “A Rainha Suprema” “O Rei Veado” “O Prisioneiro da Árvore”) prenda da primeira. Muito muito antes de saber da dissonância entre obra e vida (se não sabes não busques, que o horror é fundo, negro e medonho). Muito anticristianismo neo-pagão, palavrosíssima, com um fascínio pelo incesto que só o Jodorowsky, muita acção, muita personagem, escreve bem mas não óptimo e sempre demasiado.

Muitas vezes maniqueísta com o paganismo imaginado feminista face a um cristianismo que é muito mais puritanismo ianque que o catolicismo proto-medieval (a morte da Priscilla entre outras) e que em cima do resto contamina o paganismo idealizado com um eugenismo de linhagens especiais de corrida e populaça que só nasce uma vez que já da outra vez me arrepiava.

Mas no meio dos nevoeiros e armaduras apanha matizes e matizes das mulheres, os rapazinhos e as rapariguinhas que um dia com elas querem lidar não perdiam o tempo na leitura. Mesmo havendo uma ingenuidade fundamental nos maniqueísmos masculino/feminino cristianismo/paganismo e o entrevisto não assumido heterossexualidade/homossexualidade que não dá para não ver como fonte de imensas desgraças na vida real.

O Taliesin sabe tudo e mesmo assim tropeça em todas, a Gwen é uma burra e uma fanática velhaca (que fundamentalmente teme e inveja e odeia a liberdade que condena e castiga nas outras, incapaz de sacrificar o status à possibilidade duma vida a sério, por mais que se queixe durante 800 páginas) e mesmo assim trapaceia as grandes mentes tácticas do reino, o Kevin um retrato tão acabado do esquerdomacho que convence a própria mulher ao crime auto-parabenizado que não dá para não ver o espectro do monstro a espreitar... às vezes a pedra no sapato da vida na obra vira escolho, calhau, promontório.


 

Comentários