“Fernando Lemos - Como, Não é Retrato?” Jorge Silva Melo, 2017.

Vemos este documentário sobre o Fernando Lemos, a tua irmã já o tinha visto porque foi ouvir o próprio o fim-de-semana passado e ficava-lhe mal se não me obrigasse a vê-lo também (e com razão).
Ora este é complicadinho... o Lemos é o fotógrafo oficioso do tardio surrealismo nacional, desse bando de bichos soltos que incluía o Cesariny, o O’Neill, o Vespeira e o Fernando Azevedo... nos anos 50 (a seguir à Jalco) chateia-se e desanda para o Brasil.. e no Brasil ainda se solta mais (porque como nós sabemos os surrealistas são rapazes à partida muito presos), esticando-se pelo desenho, pintura, design, volta à fotografia, toda a sorte de técnicas mistas, o diabo a sete... e teorizando uma relação entre uma Europa criativamente anquilosada e “de acervo” e um exterior altri-europeu onde, como ele diz, “só temos os artistas”... o que é discutível, mas pronto... O tipo é fascinante, brilhante, a cair da tripeça e mais vivaço que o grosso da minúscula intelligentsia de cá... mas mandemos o Silva Melo fazer um filme sobre este tuga brasileiro (“tenho duas terras, uma que me fez, outra que eu ajudo a fazer” diz-nos ele) para confirmar no durante a teoria do filmado...  a sério... eu não sei como é o Silva Melo aí pelos palcos, mas como cineasta é de cuspir na sopa!! Chato e pesporrente, longas narrações cheias de auto-importância que não podiam ser mais antitéticas com o desempoeiramento do velhinho retratado, mais o mocinho em grande plano que olha as obras do Lemos com ar de inteligente, sem explicação nem utilidade e a quem claramente (seja neto ou namorado do realizador) queremos fazer uma qualquer espécie de carreira...
Fantástico... se eu considerasse o Silva Melo mais, achava que tinha sido de propósito.. porque eu não concordo com o tio Fernando, não acho que a Europa se tenha reduzido a um arquivo cheio de importância e criativamente morta (por mais que esta conversa seja muito popular nas Américas e nalguma África bem alimentada)... mas o Silva Melo quase que o comprova, o nhurro armado em esperto.

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