“Levanta-te e ri – O Regresso” SIC, 2018.
Ora ora ora... antes de mais: o Levanta-te e rir quando
apareceu foi pouco menos de revolucionário e eu adoraaaaaava-o!!! basicamente
inventou o stand-up em Portugal (por mais que a malta goste de atirar para o
Solnado, a verdade é que o formato não existia antes disto.. e mesmo depois, é
que se sabe...)... este Regresso não foi totalmente mal gerido: não nos tentou
fazer engolir “jovens turcos” à pressão pelo menos! Só levámos com nomes
respeitados (mesmo que não respeitáveis) embora as ausências (o Ricardo Araújo
Pereira e o Bruno Nogueira) fossem mais expressivas que as presenças
(claramente por razões contratuais.. o RAP na TVI e o Bruno atado à TSF que já
não é do mesmo grupo que a SIC)... seja como for, à partida, não era morte de
homem...
O tom auto-celebratório era inevitável e previsivelmente
tínhamos a fina flor do entulho da SIC a encher as primeiras filas (o Daniel
Oliveira sentadinho ao lado do Boucherie Mendes para me pararem imediatamente a
digestão..) o Marco Horácio a fazer as macacadas do costume (estranhamente o
número do Rouxinol Faduncho haveria de ser um dos pontos altos da noite..).. o
Nilton com a auto-satisfação costumeira (nunca lhe achei grande graça..) sempre
se achou com muito mais piada do que aquela que na realidade tem coitado.
Depois o Francisco Menezes, essa grande tragédia! Debaixo daquela capa de
betinho da Foz há um verdadeiro génio cómico mas que não se consegue soltar dum
racismo e homofobia casuais que lhe cortam imediatamente as perninhas mal desce
abaixo do Mondego... era verdade há 15 anos e é verdade hoje e ele às tantas
não sabe porque é que a carreira dele não dispara mas a primeira rotina do
metro de Lisboa em que se entra na Buraca (e faz-se um “sotaque de preto”) e se
sai no Chiado (e meneamo-nos “amaricadamente”) é absolutamente vergonhosa...
hilariante, mas vergonhosa. Não é que sejamos menos racistas e homofóbicos no
Sul, mas ao menos sabemos que não é de bom tom, eu rio-me que nem um mouro, mas
eu não tenho vergonha nenhuma e acho o humor um valor acima das boas
intenções... em resumo: Menezes, uma tragédia de desperdício.
Depois o Aldo Lima... que é como quem diz, depois da Foz, o
Restelo. O Aldo Lima tem a diferença de ser verdadeiramente maluco. Adorável e
genial, o único verdadeiro humorista da quadrilha pela minha definição, que é a
de pegar numa ideia que temos todos e nos levar pela mão a uma conclusão
absolutamente inesperada (coisa que partilha com o Araújo Pereira e o Bruno)..
o problema do Aldo Lima é que não percebe ritmo, larga as punch-lines cedo e
não deixa a malta respirar (como há 15 anos atrás quando eram todos amadores..)
e é um queimado completo (as vezes que tropecei nele pela noite são incontáveis)...
vai ser o Jorge Palma da comédia portuguesa: genial, cheio de “potencialidade”
e se sacarmos um bom álbum dele é um pau! Bendito.
Depois o João “eu vim de Braga” Seabra... eu sempre
simpatizei com ele e sempre dei a grunhisse “clube de meninos” um bocado de
barato, mas 15 anos depois se o número evoluiu, o ponto de vista está
exactamente na mesma; o que quer dizer que ele agora é um profissional quando
antigamente era um amador (a maneira como ele pegou na sobrinha do Lobo Antunes
e no marido para ilustrar o próprio texto é de mestre) mas o humano por detrás da
rotina é exactamente o mesmo... o que é chato, para não dizer triste (o
ventriloquismo com o boneco barato então, é mesmo deprimente).
E finalmente o Rocha... o Rocha sempre foi a negação
incorporada no objecto.. o contador de anedotas no programa de stand-up que ia
dar o salto das anedotas para o stand-up... A safety-valve (não fosse isto da
stand-up não pegar pensaram os executivos da SIC há 15 anos) que se tornou a
coroa de glória da coisa, porque apesar de ser um trengo de Rio Tinto, um
antigo electricista das obras que conta anedotas com mais caralhadas que o
cantiflas português e não traz, como ele não perdeu a oportunidade de espetar a
boutade, “dignidade” nenhuma ao programa (aliás foi extremamente interessante
ver como se durante a actuação dos outros os planos de corte eram feitos para
as “estrelas da SIC” das primeiras filas, durante a actuação do tio Fernando só
os fazíamos para o fundo da sala, onde estava a populaça que sabe deus porquê
pagou bilhete para ir ao Coliseu..)... porque a verdade final é só uma: há
tantas maneiras de fazer rir um primata como de esfolar um gato e o cabranote
do Rocha: azeiteiro, anedoteiro, chunga, popular (no mau sentido da palavra),
trengo a roçar o lumpen, tem mais piada que os meninos das Produções Fictícias
todos juntos... e é por isso que é mais respeitável do que o resto do “Levanta-te
e ri quinze anos depois e está tudo mais ou menos na mesma menos o Rocha que
perdeu a vergonha de ser do povo”. O Rocha salvou o episódio, não é a primeira
vez... e eu nem sequer gosto de anedotas cheias de caralhadas.
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