“Victoria” 3ª temporada, 2019.
Acabo a terceira da SôDôna Victoria (Drina para os
amigos)... a comparação com a “The Crown” é inevitável, começam ao mesmo tempo
e se uma (esta) trabalha a rainha Victoria a “The Crown” faz o mesmo pela
MeninaZabéte.
E é curioso que, se ambas apostam em actores a sério e numa
realização como só temos no cinema antigo ou na televisão moderna, mesmo assim
os caminhos escolhidos são absolutamente divergentes:
a “The Crown” aposta (provavelmente por falta de escolha)
numa absoluta colagem aos factos e numa fotografia para lá do glorioso (estamos
a falar do fim dos anos 50, princípio dos 60 e mesmo assim a coisa é
pecaminosamente bonita); a “Victoria” faz o caminho contrário.. agarra-se ao
luxo visual da época e dá soltura aos guionistas, que estão a usar, um por um,
todos os truques baratos do ofício:
Não só as personagens são escandalosamente mais bonitas na
série do que na realidade (acho as fotografias em cima expressivas que
cheguem), como não envelhecem; temos as personagens populares descartáveis que
supostamente nos dão um sentimento de identificação (mas que morrem com o fim
do contrato do actor e são substituídos por outra com a mesma falta de
profundidade mas a mesma função mecânica); subplots românticos da treta absolutamente
insultuosos para o espectador com discernimento (a duquesa e o criado);
martelamento da história a torto e a direito porque dá jeito (o Palmerston
engatatão com quarenta anos, quando à época tinha quase setenta é especialmente
doloroso); a invenção pura e dura (pegar na Feodora que nunca fez mal a uma
mosca e fazer dela uma antagonista ossuda mesquinha e feia é muito muito mau);
o anacronismo feroz (o interesse que o Alberto tinha pelos filhos,
absolutamente anormal para a classe e altura histórica, em vez de ser mostrado
como foi: disciplina férrea que metia chibatadas regulares, é encenada como uma
paternidade à hoje em dia, cuidadosa preocupada e carinhosa, coisa que em 1850
seria uma anormalidade médica) para não falar no angelismo bhhééérqq com que
rodeamos a personagem principal:
a Victoria não é uma rapariga simpática.. foi uma menina
traumatizada que se transformou numa monarca caprichosa e com queda para a
anticonstitucionalidade emadurecendo eventualmente numa velhinha reaccionária e
familiarmente sociopata (todo o convívio com as crianças por exemplo é uma
total invenção, a Vicky era notória por as manter ao largo, numa classe que as
achava uns adereços, como é que dizia a regra?: para ser vistos mas não
ouvidos..).
Em resumo, ainda vejo, mas não sem me aperceber de que nesta
época de ouro televisivo, ser bom começa a não chegar:
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