“Quando os Lobos Uivam” Aquilino Ribeiro, 1958.
Nós, os portugueses, bem servidos que estamos de letras nem
sequer da forma que eu menos como – o romance – nos podemos queixar, temos
montes deles bons e em menos de 200 anos parimos três gigantes: o Eça antes de
mais, de quem não gostar quando se é português é uma evidente prova de
estupidez. O Lobo Antunes (tio António antes de todos os outros tios Antónios)
qual nóbel qual caralho, como se fosse preciso virem um bando de anquilosados
suecos dizer-nos cá o que é bom e não é... (e diz isto alguém que gosta bem do
Saramago).
E depois temos o Aquilino.
Do Aquilino diz o meu paizinho “se queres saber escrever lê
o Aquilino”, o Aquilino é um gigante entre os gigantes; não sabemos bem
porquê... os moços da literatura falam na excepcionalidade meta-escola (sim,
porque o Eça é um “realista” e o António um “pós-moderno”) e na riqueza
lexicológica (maneira académica de dizer que ele usa o português todo sem
necessidade de inventar português como faz amiúde a academia); filosoficamente
é evidente a diferença em relação ao Eça e ao António... o Aquilino é tão
cínico e cruel como eles, tão desiludido e apontador com e às pequenas manhas
da nação e da espécie... mas consegue (sabem os deuses como?) reter uma espécie
de pequena esperança telúrica algures entre o Manel e a Natureza (muito perto
do que tu sentes no Torga)... e isto sem perder aos pontos do humor nem para o
Eça nem para o Lobo Antunes.
O Aquilino é um maior. Consegue não escrever duas páginas
seguidas sem “inadvertidamente” escrever um poema; é tão duro como os piores e
mesmo assim não nos deixa sem esperança porque (sabem os deuses porquê?) ainda
acredita na humanidade; estamo-nos sempre a rir com ele (como com os grandes
todos); é uma espécie de poeta disfarçado sempre a ter problemas com a bófia.
Faz a remissão do Panteão todo só por lá estar com a Amália
e o Eusébio:
O capítulo do lobo fez-me chorar fisicamente, o do Brasil
perceber muita coisa, o dos juristas do Plenário ranger os dentes e rir ao
mesmo tempo, o do cão Farrusco perceber as mortes nas aldeias... é demasiado, o
Aquilino é demasiado.
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