“Caminhos da História” Joel Cleto, Porto Canal, 2019.
Eu sei que já chateia mas continua a ter de ser, que o Cleto
é a melhor coisa a vir daí de cima desde a Manela Azevedo.
No Porto Canal, que é basicamente a assustadora irmã do
presidente da Câmara a espumar loas ao Pintinho, quase não se percebe esta
pérola, e claramente o canal não percebe o que tem ali de bom e barato (nem
ficha no IMDb têm os santinhos...).
Primeiro, o tio Joel farta-se de trabalhar, pus a coisa a
gravar na box há uns tempos e distraí-me e tinha cento e tal episódios (aquilo
dá todos os dias)... mesmo com necessárias repetições o volume de trabalho é
espantoso, pergunto-me quantas horas de emissão lhe faltarão para ultrapassar o
José Hermano Saraiva (sendo que o Cleto é MUITO melhor que o José Hermano
alguma vez foi!).
Segundo, o meio (à força de horas de serviço) está cada vez
melhor dominado, para além de bonitamente realizados, os episódios são cada vez
menos lineares (o da Páscoa que começa com antas e menires, faz o cristianismo
e volta a repegar no megalitismo é de antologia) e mais abstractos (em rigor,
por muito interessante que seja o Porto, com este volume de trabalho chegamos
eventualmente ao ponto de espremer pedras).
Terceiro, muito à historiador português o tio Cleto continua
a fugir da noção de conflito como o diabo da cruz (consegue falar do coliseu
durante 10 minutos, 2º episódio sobre os teatros, sem falar na IURD o que é
espantoso para mim), mas esta é uma queixa pequenina.
Resumindo... esses gajos aí em cima não sabem o que aí
têm; e eu não percebo como é que nenhuma direcção nacional (leia-se: Lisboa)
ainda não o pescou... porque esta história do Cleto só poder ir, máximo dos
máximos, até à margem direita do Mondego, parece que se atravessar e for ao
Portugal dos Pequenitos é excomungado e nunca mais pode entrar no Dragão (ele
tratar a Batalha de Trancoso quando ainda não tratou da de Aljubarrota é
doloroso)... é uma perda para toda a gente, até para as “gentes do Norte”.
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