“Tropic of Cancer” Henry Miller, 1934 (lido por Peter Marinker).

Uau!
Eu já li coisas da “colónia americana” na Paris de entre guerras (Fitzgerald e Hemingway) e regra geral achei-os desinteressantes (literariamente desinteressantes)...
Mas o tio Henry é outro animal:
primeiro, é muito muito MUITO mais espesso, ele faz-se de bruto mas tem mais bagagem e raciocínio interior que o resto da colónia toda junta (mesmo que a Anaïs...);
segundo, o stream of consciousness avant la lettre à americana da altura é uma fraude total no Miller, a coisa é escrita e muito profundamente e trabalhosamente escrita. As passagens do abstracto para o concreto e de volta ao abstracto são duma suavidade absolutamente poética.
terceiro, ele tem uma tese, algo que está a ser dito, podemos discordar (e eu nem sequer o faço totalmente) mas a argumentação dele sobre como, no ocidente, à arte do sublime sucedeu a arte do horroroso, do obsceno, do carnal... e que essa é a única verdade que nos resta, é no mínimo poderosa.
Isto é brutalmente bom, e eu nem sequer sou grande apreciador de romances.

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