“Breves Memórias da Carregueira de Mação no Início do Século XX” Revista Zahara nº 19, Alves Jana, 2012.

Este é um artigozinho pelo José Eduardo (o mais interessante dos primos do meu pai, o retrato acabado do óptimo professor de liceu do interior com uma vitalidade que nos envergonha a todos cá no litoral) a partir dumas memórias de um cura lá da aldeia dos meus próceres (o Sr. Padre José Vicente Lérias) a descrever os desmandos dos carregueirenses do início do séc. XX... deixo-te com duas:
“... A fama d’esta povoação não é de invejar; têm fama os seus habitantes de bailadores. Effectivamente é uma terra doida por bailes e danças, brincadeiras tão perigosas como deshonestas...”
“... Havia n’outro tempo um uso que tinha tanto de pernicioso como de selvagem. Quando se fazia a festa a N. Senhora da Estrella a 8 de Setembro, preparava-se um grande bolo doce para o mais valente luctador. Saltava para o meio do arraial algum valentão, desafiando os mais valentes. Apparecia quasi sempre alguém a disputar o bolo. Agarravam-se á maneira de abraço e principiavam n’uma lucta raivosa e selvagem. Extrociam-se, agachavam-se. empinavam-se até que finalmente a força ou a arte derrubava um dos dois. Uma salva de palmas e vozes applaudia o vencedor que, para ganhar o bollo tinha de permanecer invencível até ao ultimo adversario. Mas quantas vezes o vencido ao ouvir o applauso do publico ao seu ve(n)cedor não se levantava furioso e precipitando-se sobre o seu adversario principiava uma lucta sangrenta, não já a braços, mas á navalha e a cacete? Corriam a defender o vencedor os seus amigos e parentes e egualmente os amigos e parentes do vencido accudiam em seu soccorro. Estabelecia-se uma confusão enorme; a navalha ás occultas desempenha o seu funesto papel, emquanto o cacete zurzindo no ar, faz brecha em muitas cabeças. O fim d’esta tragedia era um horror!”
Se isto não é “História do Corpo” do nosso querido professor Crespo cuspida e escarrada, não sei o que será...
pois é daqui que eu venho.

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