“Triumph des Willens” Leni Riefenstahl, 1935 (tb. “O Triunfo da Vontade”).


Este andava há muito para acontecer... e há aqui muita coisa para unpack como dizem os anglos.

Comecemos por pensar que no meu tempo de vida devo ter visto dezenas, talvez centenas de horas de filmagens da élite nazi em documentários deste ou daquele tipo, sendo que grande parte (a maioria se falarmos do Hitler a discursar) vêem originalmente deste filme.

Este filme é antes de mais um “documentário de propaganda” sobre um congresso partidário... e por mais cenográficos que fossem os nazis, isto continua a ser filmar e montar duas horas a partir de discursos de membros locais do partido, ranchos folclóricos e paradas para-militares... o que pode parecer impossível de transformar nalguma coisa visível por alguém que não faça parte do departamento de História, mas é a cabrona da tia Leni!

Sem se perceber muito bem como ela filma e monta isto e vemos duas horas de maníacos a berrar e tropa a marcar passo como se fosse divertido... porque é, porque a cabrona da Leni Riefenstahl é um génio que devia ter sido sumariamente fuzilada depois da guerra por ter posto estas capacidades ao serviço do mal, do veneno de deus...

Francamente, esta mulher a filmar sem luz artificial à noite compete com o Eisenstein a filmar nos seus estúdios absolutamente controlados... ninguém fala nela mas aprendeu-se muito com este ENORME (e medonho) génio da realização (especialmente na publicidade.. na publicidade televisiva há 50 anos que há um cheirinho a Riefenstahl de meter respeito)...

Fora isso é extremamente iluminador ver a élite nazi a mexer e a falar e ver como se mexem entre eles e o que dizem publicamente... os discursos meio histriónicos do Adolfo quando vistos e ouvidos sem os cortes que os Aliados lhes fizeram depois, parecem estranhamente apresentáveis quase razoáveis... não soubéssemos nós a verdade por detrás do pano.

Este é um filme perigoso, perigoso porque é uma obra-prima.. ao contrário do “mein kampf” que é uma estucha insuportável e imediatamente reconhecível como um bestial disparate... isto, graças ao génio da Leni, é uma obra-prima... uma obra-prima do mal, mas uma obra-prima.

 

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