“Vlad Țepeș” Doru Nastase, 1979.

Este é um bicho muito mais interessante... o Vlad, o Empalador das histórias medonhas no ocidente (que haveria de resultar no Drácula do Bram Stoker) é um herói nacional na Roménia (por muito que ele se identificasse provavelmente como nacional da Valáquia e falante de búlgaro) por mais que a ideia de Roménia tenha sido algo que apareceu 400 anos depois... mas seja como for, passados esses 400 anos, o folclorismo nacionalista romeno cooptou-o como herói nacional, mesmo a contrapelo ao resto da Europa que o continuava a olhar como um sádico sociopata.

Chegamos aos anos 70 e o regime do Ceaușescu, em plena decadência sistémica e com a dificuldade do costume em manter um estado artificial com múltiplas identidades nacionais amalgamadas (ao caso romenos no sul, búlgaros a oeste, dois tipos de húngaros a norte, moldavos a leste e ciganos por todo o lado), toca de usar o tio Vlad como metáfora do bom romeno duro mas justo, tão resistente quanto cercado de inimigos infames, brutal só porque o tem de ser (a colagem entre o velho Țepeș e novo Ceaușescu é bem feita mas evidente)...

independentemente de todo o contexto o filme é bem feito e divertido... por mais que para 79, mais pareça um filme de 59.

E finalmente absolutamente conseguido nos seus objectivos propagandísticos, melhor do que estava à espera até:

dizia-me um velho campónio székelyek (sículo), especialmente informado, quando lá fui “sim sim o Ceaușescu foi o maior țepeș que cá tivemos desde o Vlad... mas vocês também tiveram o Salazar, não foi?!”

 

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