“Si Versailles m’Était Conté” Sacha Guitry, 1954.

OK... este é complicado...

este é o primeiro da trilogia pós-guerra do Guitry (os outros dois são sobre o Napoleão e Paris), eu vi este e o terceiro (o sobre Paris “Si Paris Nous Était Conté”) e adooooorei estes filmes, são coloridos e rápidos, cheios de esprit, muito classudos, o talento é absurdo (o elenco é toda a gente que era alguém nos palcos franceses dos anos 50, mais a Piaf para cantar o “Ah Ça Ira”) historicamente rigorosos mas agarrados à anedota, à petite histoire como eles dizem, de que eu gosto especialmente.

Ora nesta história, como em todas, o contexto explica dois terços: o Sacha Guitry é uma LENDA dos palcos e do cinema de antes da guerra (como actor, dramaturgo e encenador)... a Ocupação apanha-o a banhos e ele tenta navegar na maionese com uma perninha cá e uma lá... grandes declarações de amor à cultura francesa enquanto estreia na Opéra da Paris ocupada livrinhos a glorificar a França da Joana d’Arc ao Pétain, ao mesmo tempo que tenta libertar amigos letrados dos campos da morte e vai manobrando como pode a vidinha de isentão que “não sabe nada nem se interessa nada sobre política”... perante, literalmente, os nazis.

Ora vem a Libertação e o tio Sacha está na lista de muita malta, mas como não dá para fuzilar toda a gente que colaborou (senão tinham fuzilado de um terço a metade do país) e o Guitry é um tesouro nacional por isso deixamo-lo andar e ele depois faz estes 3 filmes de rajada (1954 / 55 / 56) como longa carta de amor à nação...

Ora o problema não vem do contexto, mas mais da visão especificamente reaccionária que ele tem da história... não só faz a história de Versailles exclusivamente a partir de quem vive nos salões e não de quem os constrói (ou paga) como, pecado mortal para mim, faz da Revolução um capricho de taberna consequência mais ou menos directa do Caso do Colar...

no fim, o filme é um serviço pior a França do que a colaboração...


 

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