“Antologia Pornográfica – de Gregório de Mattos a Glauco Mattoso” Alexei Bueno (org.), 2004.

Isto é um monte de poesia badalhoca que andava para aqui a rebolar há mais de 5 anos (prenda da tua irmã duma das viagens dela ao Brasil)...

A organização gera umas dúvidas internas sobre a lógica porque não são todos brasileiros, nem sequer com ligação ao Brasil antes ou depois da independência... it’s all over the place a esse nível, ainda bem que eu cago d’alto nisso; ao menos a badalhoquice é assumida e celebrada, isto não é poesia erótica ou satírica, mesmo que o possa ser, diz-nos o organizador (bendito!), isto é pornografia, cropofilia, chungaria de todos os tons. Ele chama-lhe fescenina mas só para ser elitista, nós percebemos: bas-fond orgulhoso e desavergonhado. Belo!

Mas aprendi (para além de gozar) um pedaço:

o Gregório de Mattos, o “boca do Inferno” de Salvador é fortíssimo;

o Caetano da Silva Souto-Maior, o “Camões do Rossio” tenho de estudar;

o António Lobo de Carvalho, o “Lobo da Madragoa” é ainda melhor do que o anunciado, é brutal;

o Laurindo Rabelo, o “Poeta-Lagartixa”, não lhe vi nada que lhe valha a fama que tem no Brasil;

o caramelo do Guerra Junqueiro, sim senhor... impressionado, aparentemente não se podia engrossar o barbudo;

o Botto é o Botto, sem surpresas aí, o Botto foi a coisa mais bonita que Abrantes produziu em mil anos de História;

as “Cantáridas”... este trio de respeitáveis doutores capixabas que nos anos 30 trocavam poemões sobre as doenças venéreas que apanhavam e os engates homossexuais de armário que descolavam é verdadeiramente refrescante;

o Glauco Mattoso é, para mim que não lhe partilho as perversões, ligeiramente demasiado, mas que o cabra sabe escrever um soneto é inegável.

Acabo o livro consoladinho de todo, mas consciente que nem antes nem depois, nem por cima nem por baixo, pela esquerda ou pela direita... não há quem ultrapasse o Bocage... mete-os todos na chinela, na graça ou na inteligência, lubricidade ou falta de vergonha... não há pai para o Manuel Maria!