Discografia CCCXCV Maria João (parte 1ª).
Ora ora ora... isto com a Mª João vai precisar aqui duns prolegómenos antes demais porque a senhora É UMA DEUSA E UM TITÃ discreto da música mundial... por isso vamos fazer isto em duas partes: uma Maria João antes e uma Maria João depois (depois de encontrar o Mário Laginha)... porque a malta fala sempre como a Maria descarrilou o Mário dum reportório clássico de menino bonito da alta-burguesia portuense (podia ele estar agora a tocar Chopin para as tias), mas eu não desfaço do impacto que ele teve nela também.
Por isso: Lisboa, anos 80, não há jazz basicamente por mais que o José Duarte nos tente evangelizar, o micróbio de jazz que há concentra-se no Hot Club ali na Praça da Alegria; ele é bar, sala de concerto e escola tudo no mesmo espaço; também se paga à entrada e tem um preçário de bar que me punha a esticar 7-Ups com gelo até o gelo derreter todo... também é um feudo de jarretas que policia muito atentamente qualquer desvio da ortodoxia dum jazz que aparentemente acabou ligeiramente antes do Keith Jarrett (a sério! não viste nada se não viste um público a virar e a grunhir, patear e ulular baixinho a meio duma performance numa sala do tamanho da minha dispensa), por isso pouco jazz e o pouco que há sem maluquices... o António Pinho Vargas era um tipo muito à frente e a Maria Viana reinava absoluta como A cantora de jazz portuguesa... e nota que não estou a cagar na Maria Viana, a Maria Viana era muito forte, mas absolutamente clássica e timorata (nos anos 80 ainda me andava a fazer destas, big band tipo anos 40), era um jazz que quando cá chegava já tinha acabado em todo lado, eram 40 anos de atraso (e eu gosto mais do jazz dos anos 40 do que provavelmente doutro qualquer... mas é em 1940 na América e não em 1980 em Lisboa...)... seja como for no meio do filme do costume aparece uma chavaleca magrela de extração duvidosa (professora de ginástica dizia-se, ao contrário da Maria Viana que, filha do grande José Viana, era automática fina-flor do entulho cá no burgo) mas com uma voz do caroço... a tipa parecia magnética. Fazia o que os outros faziam mas parecia melhor... rapidamente arranjou um quinteto ainda muito clássico mas tu começas a perceber que temos bicho-solto.
A Maria João desaparece e vai para Alemanha (acho eu, na altura) e passados uns tempos está-me a gravar com a Aki Takase e quando os discos cá chegam a malta nem sequer consegue processar... a coisa é tão tão à frente que eu não me envergonho nada de dizer que foram anos a ouvir até integrar... e hoje é doce doce mas na altura parecia música do futuro ou extraterrestre francamente...
mas isto foram só os dois primeiros capítulos desta giganta.
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