Discografia CCCXCVI Maria João (parte 2ª) & Mário Laginha.

E depois a Maria João volta e encontra o Mário... o Mário é um betinho gago do Porto, um fenómeno do piano (reportório clássico) a quem deu uma espécie muito fortuita de rebeldia e degenera para o jazz... olha a nossa bendita sorte.

Estes tipos encontram-se e logo à saída tens o que nunca tiveste antes (o Pinho Vargas que me perdoe, mas isto é outra merda)... há aqui coisas (logo no “Danças” em 1994) que eles vão andar anos e anos a fazer e a refazer sempre as mesmas e sempre absolutamente diferentes (porque isto é jazz baby!!.. tal como na ópera podes ter 5 gajos todos a cantar sua coisa ao mesmo tempo e funcionar, no jazz podes tocar sempre a mesma música e ser sempre diferente cada vez que a tocas e funciona) pensa nos “Várias Danças” do “Danças” em 1995, do “Lobos, Raposas e Coiotes” em 1999 e do “Mumadji” em 2001...

Mas logo o “Danças” em 94 é uma coisa que nunca ninguém viu ou ouviu por cá...a evolução é rapidíssima: em 96 com o “Fábula” já nenhum dos dois está claramente preocupado com a aprovação dos jarretas do Hot Club (aliás a última faixa soa-me a uma despedida desafiadora) e o melhor ainda está para vir...

em 1998 sai o “Cor”, em cima da maluquice da Expo, não só nunca ninguém tinha ouvido nada como isto, como ninguém pareceu especialmente interessado em discutir os limites da forma... vi multidões a cantar e a dançar o Rafael e não foi só na Portela (nem sabíamos que África toda cabia no jazz); um ano depois atiram-nos com o “Lobos, Raposas e Coiotes”... a “Beatriz” esmaga mas eu continuo a “Filhotes” a peça esmagadora mas seja como for é uma enorme contracurva: um álbum muito branco, muito fresco e europeu (Orquestra Filarmónica da Rádio de Hannover)... um ano depois o “Chorinho Feliz” e metemos o Brasil todo no nosso jazz como nem o João Donato... eu nem sei o que é te hei de dizer, falar das “7 Facadas” ou do “Forró da Rosinha” é ocultar o facto que isto é disco absurdamente perfeito após disco absurdamente perfeito uma e outra vez com separações de um ano entre discos...

Um ano depois tens um disco ao vivo, o “Mumadji” que se permite coisas que nem antes nem depois aconteceram... um ano depois um disco de versões como eu nunca vi...

entre 1998 e 2002 é um disco por ano, cada um uma obra-prima específica.. eles haviam de se separar e voltar a juntar e voltar a tocar e a gravar mas eu ainda não tenho a certeza de ter processado... vinte anos a ouvir-lhes esta música antiga ainda não chegam, ainda vou precisar de mais uns anos para poder ouvir o resto.

Benditos.


 

Comentários

  1. Vimo-la ao vivo em Loulé, prenda da São. Foi lindo! Diz ela "e foi o meu Mário João que nos convidou! Já viram? Quais são as probabilidades?!". Emocionante

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