“Extremamente Desagradável” Joana Marques et al, Renascença, desde 2019.
Já tinha ouvido uns aqui e ali e não tinha ficado especialmente impressionado, mas agora soube que são o podcast português mais ouvido e (agora sim impressionado com esta informação dramática) resolvi voltar à coisa e ouvi, ouvi-os todos pelo sim pelo não.
E isto é muito muito fraquinho... para começar é “extremamente agradável”, porque a Joana Marques sendo uma cagada como todos os comediantes (exceptuando casos clínicos como o Quadros) só faz low hanging fruit, essa especialidade da escola produções fictícias, o que eu antes chamava humor Zé Castelo Branco, mas que é melhor actualizar para humor Maria Leal, ou seja só pegar com cantores pimba, concorrentes do Big Brother, malta da bola, gurus de auto-ajuda e bruxas avulso, actores de terceira linha das novelas, psico-celebridades lista z (aqui a Joana inovou peneirando também a rapa do tacho dos influencers digitais).
A técnica é a de sempre, recortar os disparates que esta maltinha produz e gozar-lhes com as ideias de jerico e português de 2ª classe, no melhor estilo menino burguês das produções fictícias embora, como de costume, a Joana não ande propriamente a ler Wittgenstein (nem tinha tempo, com todos os episódios de “Quem quer casar com o agricultor” que ainda tem para ver); sendo a inovação dela (em relação à escola PF) ao menos admitir isto mesmo, ao contrário das pretensões habituais; mas a falta de horizonte é a de sempre.
Em cima disto a dinâmica das três é me horrorosa; não se respeitam umas às outras e ainda menos a entrega do texto (interrompem, antecipam punch lines, é o caos completo, comparar isto com a disciplina do Ricardo Araújo Pereira a entregar as Mixórdias na Comercial é a noite e o dia), os trocadilhos da Galvão dão vontade de estrangular gatinhos e crianças e há uma veiazinha de crueldade na Inês L. Gonçalves que me põe os pelos da nuca em pé.
A entrega da Joana também não particularmente brilhante o que nos deixa com algo sem a ferocidade dum Quadros, nem a ambição dum Batáguas, sem o brilhantismo dum Bruno nem a profundidade dum Ricardo... isto é tudo muito pouco, muito poucachinho diria a Suzete...
Lados bons: na Joana a soberba habitual da escola PF reduziu-se a 50% da dose habitual (talvez menos até); a costumeira misoginia e homofobia mais ou menos disfarçadas desapareceram completamente e podemos ter a certeza que esta gaja vai desenterrar tudo o que é cromo digno de memória dos recantos mais escuros da tv e da net. É um trabalho sujo, mas alguém tem que o fazer.
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