Discografia DVI Pedro Abrunhosa.
“This is soul...”
Eu digo repetidamente que basta uma canção... o tio Pedro deu-nos um disco e picos, mas caga nos picos.
O tio Pedro era mais que crescido e aparentemente o prof. mais porreiro da Escola de Jazz do Porto quando começa a circular (rádio pirata e k7s gravadas sabe deus como) o “Talvez Foder”... nota: estamos em 1993 / 94, o cavaquismo está nos seus enlameados estertores finais (já nem a minha mãe o defendia), eu tenho 17 anos e acabei de perder a virgindade, prestes a “ir para a faculdade”. A coisa torna-se um fenómeno, em parte por causa do “foder” (que era apitado na tv mas não nas rádios piratas), vira hino anti-governo dalguma maneira, e eu verde como as canas (e a vir dos Mata Ratos e dos Censurados) pouco impressionado para além do verso “porque o que eu quero é o teu corpo e o teu sexo, porque o que eu quero é o teu corpo e o teu sexo, porque o que eu quero é o teu corpo e o teu sexo” repetido e repetido e repetido (e nunca censurado) houve logo ali uma resposta de massas como o punk cá nunca teve.. e natural, porque era divertido mesmo a falar dos snipers de Sarajevo e da Palestina, usada como canção de luta, era música de anti-intervenção, eu na altura não percebi nem liguei nada, ainda estava a aprender Zeca e Joy Division e Bossa Nova e ainda Cure e mais Cure e Sérgio Godinho e a começar a ouvir jazz a sério com o Zé Duarte e de toda a maneira o que eu gostava era de Clash... eu tinha 17 anos e era tudo muito intenso e confuso e agora ouço isto e parece-me muito mais do que pareceu na altura o que tb é natural.
1994, sai o disco, o “Viagens”. Grande frisson, o Richart compra e diz que tenho de ouvir e eu vou de casa dos meus pais à dos dele a pé (ao pé do Fonte Nova), ouço uma vez e saio de lá, a pé de volta a casa para apanhar dinheiro (não tinha cartão multibanco) meter-me no 41 para apanhar o metro em Sete Rios para ir à Valentim de Carvalho do Rossio para também ter o meu.
Depois disso já o ouvi centenas, se não milhares, de vezes; porque é isso que se faz aos discos perfeitos que capturam um momento duma nação inteira... eu nem sequer vou tentar intelectualizar mas há teses a serem escritas sobre o como e o porquê dum disco tão diferente de tudo o que tinha sido feito até aquela altura, ter sido o esmagamento que foi.
Para mim foi a música cheia, o jazz académico mas solto mas que não deixa nada, cantinho nenhum, ao silêncio (o Hélder havia de lhe colher bem as lições) e sensual, porra que este disco escorre sensualidade, isto é para lá de Prince, só o “Tudo o que eu te dou”, por mais xarope que te soe, é catnip para a minha geração (ninguém me desconvence que é a principal causa do salto da taxa de fertilidade do 1,41 de 1995 para o 1,47 de 1997...),
na altura dançava-se ao limite da decência suada debaixo do tio Pedro...
A porra do disco é perfeito, uma porra duma obra maior a seguir a outra. Eu nem sequer sei qual escolher de ilustração e ouvi o disco todo pela ordem enquanto escrevia isto (o que raramente acontece), no limite vai ter de ser:
https://www.youtube.com/watch?v=5BuzRxad6jo
ele depois fez outras coisas, mas sem necessidade.
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