Discografia DVIII John Williams.

O meu amigo Beato insiste e eu vejo-me obrigado a confrontar o monstro.

Sim a música de tipo antigo, sinfónica (com a tropa toda) e frequentemente narrativa agora faz-se para os filmes, como antes se fez durante muito tempo para a ópera... isto não diz nada sobre a qualidade da música em si, mas há uma história inteira sobre a valorização social que se vai dando à música conforme o status do contexto para qual é produzida... a “Flauta Mágica” hoje só se encena no São Carlos, mas na altura foi feita para a opereta popular e vista como um sinal da decadência da carreira do Mozart por assumidamente infantilóide; o Offenbach escreveu a abertura do “Orfeu para a opera respeitável mas quando caiu no cabaret foi um problema; o Satie era música de malucos modernaços até o aburguesarem après la lettre e agora já passa na Gulbenkian quando em vida do teu Erik tocava ele, de fatinho puído, para os amiguinhos “artísticos” no buraco pulguento donde conseguissem não ser expulsos.

Isto tudo para dizer que há tipos de música (condições de produção: se tens só uma guitarrinha ou uma orquestra inteira) e valorização social da mesma (se passas na Gulbenkian, no jingle publicitário, na discoteca ou és banda-sonora dum filme de karaté).

Música à antiga, com a malta toda a tocar ao mesmo tempo e livros de partituras muito extensos e complicados, hoje é uma raridade por muito cara... ou temos a que se faz exclusivamente para a élite (tipo Emanuel Nunes) ou a que se faz para os filmes, o último espaço de música com a orquestra toda feita para o povão... tipicamente narrativa e orelhuda... e às vezes boa, muito boa.

Claro que aí, para mim, não houve no meu tempo de vida gigante mais gigantesco que o tio Ennio, canso-me de repetir.

Mas mais ao menos no mesmo tempo houve outro monstro, um que não sendo tão divino (digo eu) foi mais influente. Mais influente porque basicamente moldou o que se tornou a música de Hollywood (com tantas nomeações para os óscares que só se vê ultrapassado pelo Walt Disney)... um gajo que escreveu a “Marcha Imperial”, e o som de qualquer aventura romântica dentro da minha cabeça, esta absurda e insuperável pérola, e me gerou um terço do choro da “Lista de Schindler”, fora a banda-sonora do teu amigo Harry.

Eu continuo a ser um parcial do Morricone, mas não há superlativos que exagerem o puro génio e influência deste moço de Queens...

A primeira vez que fui ao cinema, com a minha mãe num cinema que já não há mas havia ali na avenida de Berna por detrás da igreja, ouvi isto:

https://www.youtube.com/watch?v=Ps1-YlB1TIQ

era dele.


 

Comentários