“Иди и смотри” Elem Klimov, 1985 (tb. “Vem e Vê” “Come and See”).

Quando o Cordeiro abriu o primeiro selo

dos sete selos, olhei e ouvi um dos quatro

viventes, que dizia com voz de trovão “Vem”

Olhei, e vi um cavalo branco.

Ap 6, 1-2.

 

Em 1973 o François Truffaut famosamente disse que não dava para fazer um filme verdadeiramente anti-guerra, porque a guerra é demasiado cinemática; o “Apocalipse Now” é sempre citado como exemplo deste tipo de falhanço, por por mais esforço que faça num sentido nós nos consigamos entusiasmar com a perspectiva de metralhar campónios vietnamitas ao som de Wagner.

O título vem da passagem do Apocalipse que anuncia a chegada do Cavalo Branco (a Guerra) lida como ninguém pelo Johnny Cash, e este bendito Elem Klimov provou falsa a tese do Truffaut... e duma maneira estranhamente simples: e se mostrarmos a guerra do ponto de vista não de quem a faz, mas de quem a sofre... DE QUEM SÓ A SOFRE.

Foi só isto, versão expressionista que está sempre a parecer escorregar no surrealismo porque tudo na guerra é ilógico e distópico e absurdo, e tens não só uma inenarrável obra-prima como eu nunca vi (e eu já muito, demasiado, filme de e sobre a guerra), como finalmente consegues fazer um, filme, anti-guerra:

https://www.youtube.com/watch?v=BcCbX1fqFKA

provavelmente o filme mais aterrorizador de sempre,

porque não tem nenhuma fantasia.


 

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