“Les Trois Mousquetaires – D’Artagnan” Martin Bourboulon, 2023.
Eu 3 Mosqueteiros é um vício (mais que trauma) infantil que seja lá como for vou lá sempre para levar porrada... e nem é do livro, que é uma monstruosidade pejada de personagens horríveis (não há heróis no original do Dumas, são todos uma cambada de pequenos aristocratas assassinos, violadores e abusadores do povão), sei que é entre a capa e espada e o fascínio com o Richelieu mas acho que das milhentas versões só não vi a da Barbie e a série musical russa... e normalmente queixo-me, se não é do cu é das calças... com os Mosqueteiros sou mesmo a criada da Tieta, já só vejo para me queixar.
Vinha queimado do último (de 2011) o pior de todos! e disse-me vá que este até é em francês, pode ser que não seja a miséria do costume.
Primeiro impacto: temos mais uns mosqueteiros durões permanentemente em couro e meio húmidos e despenteados (tem andado na moda ultimamente), tudo bem, é contraditório com os insuportáveis janotas originais (e claro que impactou na razão com o duelo com o Porthos) mas só se torna gritante quando extensível a toda a gente mesmo nos cenários gritantemente barrocos e a personagens tão notavelmente janotas como o Gaston d’Orléans ou o duque de Buckingham... aliás este filme é escuríssimo, o tempo que passamos em caves e túneis e debaixo de tempo enublado é absurdo... faz a França parecer Inglaterra.
Temos uns rebites de novidade: a fita toda dos huguenotes, o Gaston e a mãe e o partido devoto é só para os franceses, o Luís XIII ser cabra-macho apesar de hesitante e capaz de se deixar endrominar pelo irmão, mãe, esposa e ministro é o retrato mais justo que lhe fazem há muito muito tempo (tipicamente os filmes anglos confundem a provável homossexualidade do Luís XIII com efeminação, o que não era de todo o caso) aliás o retrato do Garrel é um dos pontos altos da coisa...
A cena toda do Athos acordar com uma gaja esfaqueada na cama e ser preso e julgado imediatamente é de maluquinhos e tolos (um conde acorda com uma puta morta na cama, é julgado no próprio dia sem ninguém perguntar como é que “a polícia” soube antes dele do crime, e acaba condenado... iá!) se lhe meteres “a morgue” e exumações para investigação estamos em território CSI Dartacão!!
É de tolinhos!
O Porthos gay e sem stress entre os amigos pode parecer aggiornamento woke às três pancadas mas faz mais sentido que um monte de anacronismos, o convívio e a tolerância com a homossexualidade era muito maior do que faria parecer o discurso público... aliás como hoje é bem menor do que possa fazer parecer o actual discurso público como se nota pelo facto de, com uma mínima tesourada de edição, esta homossexualidade do Porthos desaparece sem consequências e o filme pode ser exportado para mercados onde a tolerância ainda nem ao discurso público chegou, ó prós franceses a aprender com Hollywood!!.
A esse nível de picuinhice irritam-me mais os figurinos absurdamente errados (tricórnios e mais tricórnios e condessas a receber de vermelho e com as mamas de fora) e a bendita cadeira com um escudo dos Habsburgos onde o rei de França se entroniza repetidamente.
Eu já estou só a atirar coisas à folha sem sequer tentar organizá-las.
A de Val-de-Grâce como mosteiro fora de portas onde a Ana de Áustria se vai enrolar com o Buckingham é muito boa: primeiro porque não era de monges mas sim de manas, segundo porque foi onde a espanhola Ana (Áustria era só de casa porque nascida e criada em Madrid) foi apanhada a intrigar a favor do irmão Filipa IV (de Espanha) III (cá do burgo até o substituirmos pelos Braganças) e finalmente porque o fora de portas é hoje no 5éme, ali entre o Luxembourg e o Jardin des Plantes, metro Censier-Daubenton, ainda na petite couronne; esta é só para os parisienses sorrirem.
Argumento errático e às vezes disparatado (mas depois dos zepelins de 2011 já estamos por tudo), realização demasiado nervosa e fotografia escuríssima.
Actuações: o Vincent Cassel para mim é sempre sim, eu adooooro o Cassel, o Cassel can't do no wrong não vale a pena, o Louis Garrel já disse, apanhou-me completamente o Luís XIII, o Romain Duris de Aramis é outro que eu gosto sempre e aqui está em 110% de pedaço de mau caminho homoerótico para além de que a cena em que tortura o coxo com um crucifixo afiado é o único reflexo da total amoralidade das personagens no Dumas, o puto de D’Artagnan safa-se decentemente, mas só eu é que notei que o gajo é um clone do Hans Matheson?! o Eric Ruf de Richelieu parece-me muito bem, mas depois não o usar é só estúpido, um actor deste tamanho numa personagem deste tamanho e depois dar-lhe tempo de figurante é muita burrice, a Eva Green faz o costume da Eva Green: pinta os olhos de preto e faz um ar muito intenso, é lindíssima mas é pistola duma bala só, quando se for a beleza há de ser uma tragédia pior que a Brigitte Bardot, poder ser que não que esta é betinha e fala línguas, finalmente o total oposto, uma mocinha com cara de papo seco e que sem muito texto faz muito pano, esta Lyna Khoudri de Constance, esta é de nos lembrarmos do nome...
Resumindo: ainda não é desta, mas acho que nunca estivemos tão perto:
https://www.youtube.com/watch?v=cvWLpi5J-NI
a segunda parte sai pró natal e eu vou ver de certeza.
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