“The Mists of Avalon” 2 episódios, 2001.

Ora, ora ora… este é comprido e eu andava para ver isto desde que soube que tinha sido feito, mas precisa de contexto porque este é um segredo muito bem guardado da geração e meia antes da tua.

“As Brumas de Avalon” é originalmente um ciclo de romances da Marion Zimmer Bradley do início dos anos 80 que por cá, na Europa, rebentou nos fins dos 80, em Portugal eram 4 volumes da Difel como tijolos (com umas capas com umas aguadas muito feiinhas se bem me lembro). A ideia era simples e difícil maravilhosamente conseguida: pegar no ciclo arturiano clássico e virar o bico ao prego em termos de discurso de género, ou seja, a personagens femininas simples e secundárias tornam-se principais e cheias de motivações complexas e os bons passam a ser os da velha religião e o novo cristianismo surge como obscurantista, misógino e sexualmente castrador... e por muito que a coisa tresande a feminismo clássico de 2ª vaga e a neo-paganismo freestyle dos anos 60 ela raramente era maniqueísta e escrevia que era uma maravilha.

Tu não estás a ver o sucesso absurdo que isto foi, principio dos anos 90 isto foi uma coisa entre o Harry Potter e o Dan Brown, toda a gente com mais de 14 anos leu isto (menos a tua irmãzinha que sempre foi uma original) com a diferença que isto era imensamente respeitado pela crítica (ela escrevia mesmo muito bem e dominava os Chrétien de Troyes e Thomas Malorys completamente) tanto aqui como em Paris ou Nova York.

A autora morre nos louros em 99, despoletando mais uma vaga de interesse, esta série é de 2001 e assim vamos até 2014 quando a filha mete a boca na botija e conta os horrores todos que a mamã e o papá faziam com as criancinhas... estranhamente não há grande pushback (que eu me lembre) e o que acontece é que a Marion Zimmer Bradley simplesmente cai do consciente colectivo dum sopro, como o Alcides Pinto: depois fugiu e nunca mais foi vista.

Agora o meu caso com a Bradley não é tão grave como o desta mocinha que li há uns tempos, ela não fez de mim feminista (isso foi a minha avó Belandina), mas eu adoooooorei os livros na altura e ela ensinou-me a considerar a perspectiva da narrativa muito muito antes de eu conhecer a palavra Antropologia.

A série é decente, mas tem pouco mais de 3 horas para concentrar um mundo inteiro, é tudo um bocado a sopetão, a coisa dura uma geração e a malta mal envelhece, os figurinos são magníficos ainda que completamente pré-rafaelitas, a música da tia Loreena é tão certa que até parece óbvia, actuações: a Julianna Margulies magnífica como sempre (eu tenho um fraco absurdo com a Margulies) e é a única a actuar a coisa competente e contidamente... a Anjelica Huston é o seu habitual sobrevalorizado, a Caroline Goodall e o Michael Byrne tentam não exagerar muito mas têm pouco espaço, Joan Allen e um Hans Matheson muito novinho são magníficos, mas comem o cenário todo de tão tão maus (raramente vi actores a divertirem-se desta maneira...), o resto não interessa nada. Isto é daqueles que quem não leu os livros fica confuso, quem os leu desiludido, isto podia ter sido um “Game of Thrones” e nem a um “Senhor dos Anéis” chegou:

https://www.youtube.com/watch?v=NYEvkSc3Nk4


 

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