“I am glad that I am dead” A.I. George Carlin, 2024.


 

Ouço isto (uma “criação” de um algoritmo de inteligência artificial que não só imita a voz, como tenta imitar o estilo de escrita do grande Carlin) e o impacto inicial é abananante; a voz é a mesma e o estilo da escrita é muito muito parecido... mas depois ouves e ouves, e conhecendo-o como eu o conhecia, começas, primeiro a sentir, e eventualmente a perceber o que é que está errado: primeiro é o ritmo, o Carlin como sempre os maiores, não fazia sequências mais ou menos encadeadas, mais ou menos interrelacionadas de bits, o que ele fazia era um acto só, não eram álbuns de canções, eram sinfonias... e essa é a primeira coisa que a máquina não faz. A segunda é a poesia; havia uma musicalidade na maneira como o Carlin usava a linguagem, uma naturalidade na repetição de sons, na contradição de ideias a partir palavras semelhantes, que transportava a coisa muito para além do que estava a ser dito e da significant form à Clive Bell... e isso (estava-se mesmo a ver) a máquina também não cospe.

Finalmente, e este finalmente é mentira porque foi a primeira ficha a cair no meio da surpresa da máquina conseguir imitar o tio George muito bem: nada do que ele (ela, a máquina) disse me surpreendeu... porque eu ouvi-lhe, ao Carlin mesmo, 20 bocados e eram sempre marteladas psico-filosóficas e de gosto e de escrita.... e depois vi-lhe os especiais todos por ordem, do de 1977 até ao de 2008 (gravado aos 71 anos, 4 meses antes dele morrer) e houve coisas que não mudavam e outras que evoluíam (o Carlin era tão bom que começou forte e aprimorou até à cova) mas o que acontecia sempre INEVITAVELMENTE era que o Carlin me dava um pontapé qualquer a meio da coisa... me surpreendia e surpreendia internamente, no âmago de quem eu acredito que sou, e por isso é que eu nunca duvidei da arte do artista nem sequer por um segundo.

Esta máquina é muito hábil, enquanto a ouvimos quase que ilude, mas no fim sabemos... não sabemos (eu pelo menos não sei) porquê, mas sabemos, eu pelo menos sei, e é porque não me deu um encontrão na alma, o que para ser o Carlin, seria a primeira vez.

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