Mostra o que o moço disse à malta.

Publicar é uma coisa enorme para quem escreve, atrevo-me (sem poder saber) a dizer que é maior do que ser elencado (ó para uma utilização correcta do adjectivo) para actuar, só porque mais rara. E não me esqueço, como qualquer outra criatura com alma a quem aconteceu o mesmo, dos gajos que apontaram exactamente para mim e disseram “Iá, isto que o miúdo disse, mostre-se à malta toda!”.

Com necessidade de validação nascemos todos, poder respeitar os que nos validam é outra conversa... como dizem os nossos irmãos do trópico de capricórnio: senta na pedra e olha. Com todas as excreções corporais que isto implicou (e implicou todas) sem as explicitar porque me recuso a cair em topoi que o Churchill queimou para todo o sempre, a verdade é que houve um momento em que o Jorge Crespo (para todos os efeitos um meu “avô académico”) desceu da estratosfera em que os bons catedráticos existem e disse apontando para mim e pronunciou o imprimatur...

A Paula, a Paula é um caso sério para mim e mais 8 adultos que eu conheço pessoalmente (uma delas a tua irmã, alguém especialmente impropensa a números edipianos) mas para cada Édipo que ainda nem sequer ainda chegou a pensar nisso uma enorme MEDEIA mais Crónos que Medeia... um outro problema que eu não compreendo e já sou velho que chegue para saber que não preciso de compreender tudo o que se me cruza na existência, seja como for alguém que eu, para além de amar, respeitei assolapadamente, em rigor continuo a respeitar duma certa maneira (apesar do estilete) a quem, em rigor, escrevi absolutamente decentes cartas de amor. Independentemente de tudo isso (como se fosse possível) a mais das vezes (antes do Amílcar) que se me apontaram e se disse “ali o chaval é jeitoso: publique-se!” foi a Paula: Paula Cristina Antunes Godinho: um caso que eu, e mais 8 adultos que eu conheço, havemos de levar de curiosidade para a cova.

Francisco Martins Rodrigues. Eu deste até me encolho: MUD em 1949, clandestinidade em 1953, Peniche em 1956, fuga de Peniche em 1960, doze anos ao todo de choldra na PIDE, cisão à esquerda do PCP por causa do seguidismo com Moscovo, do “levantamento dos homens honestos” e das tergiversações coloniais, vota a execução dum bufo infiltrado e dá com os ossos outra vez na prisão, libertado finalmente a 27 de Abril. Continua a ranger os dentes até ao fim, como deve ser, em 2002 publicou-me, para minha imensa honra.        

Manuel Loff, outra enorme fera e cabeça que me faz a meiguice de tratar por tu e me fez a benevolência de me publicar... um tipo a que nunca vi um lado mau.

Amílcar Correia, o “meu editor” nos tempos do P3, o único destes todos que nunca abracei, mas com quem falei semanalmente durante anos à distância (primeiro de Lx para o Porto, depois de Paris para o Porto, depois novamente de Lx para o Porto). Um jornalista dos antigos com tudo o que isso tem de bom, um tipo muito à frente com tudo o que isso tem de bom. Deixou-me fazer horrores, saltos e pinotes no jornal (publicou-me todos os radicalismos anarquizantes sem um pio, uma crónica só com uma linha e a expressão “foda-se lá o caralho!”), a gentleman and a scholar... em 270 páginas (a 12) de crónicas corrigiu-me uma vez uma repetição de ideias, um senhor. Uma discreta fera muito séria ainda hoje no jornal dele... cada vez que o leio, parece que é comigo dalguma maneira.


 

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