Notas Feitas.

Estou-lhe a dar nos intervalos da loucura que para aqui vai (culpo a tua irmã por esta queda para a nhéquice que se me ataca em que fazer notas agora passa por descanso):

 

“Pantagruel - les horribles et épouvantables faits et prouesses du très renommé Pantagruel roi des dipsodes, fils du grand géant Gargantua” François Rabelais, 1532

das coisas mais badalhocas e infantilóides e escatológicas e obscenas e brilhantes e profundas e se o senhor prior fosse vivo havia de escrever para os Ena Pá como é evidente.

 

“O Outro Mundo ou os estados e impérios da Lua” Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, 1657

o pai do Swift e do Voltaire... duma deliciosa manha e descarada loucura, humor é uma coisa bruta que fazem os anglos, aqui é esprit.

 

“Le Tartuffe ou l’imposteur” Molière, 1669

a peça perfeita até dois minutos do fim onde metemos um ex machina e não-sei-quantas linhas de graxa ao Luís para ver se ele nos protege do partido devoto... só dentes, sempre a morder certo e em verso... are you not entertained?!

 

“As Catilinárias - Defesa de Murena - Defesa de Árquias - Defesa de Milão” Marco Túlio Cícero 

o maior pulha entre todos os brilhantes pulhas q produziu a advocacia... é espantoso vê-lo a usar o branco contra o preto e depois o preto contra o branco e pelo meio a chamar-nos totós porque não percebemos como tudo afinal é uma longa gradação de cinzento... especialmente quando sabemos que o brilhantismo publicado não correspondia ao que acontecia na barra... disse o Milão “se a minha defesa tivesse sido esta não estava eu a comer peixe tão bom no exílio”.

 

“O Soldado Prático” Diogo do Couto, 1610

uma barrigada de riso e choro amargo dum dos melhores amigos do Camões, o retrato de como os portugueses somos os mesmos com os mesmos vícios há 500 anos.. de dar com a cabeça na parede e rir à gargalhada à vez.


 

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