Mísia 1955 – 2024 Requiescat In Pace.
Uma desgraça nunca vem só.
Ouvir fado saltou uma geração na minha família: o meu pai é da música de intervenção e fundamentalmente um estrangeirado, a minha mãe é do nacional-cançonetismo, o meu padrinho um jovem cool dos inícios dos 80 que ouvia bossa nova, punk inglês e rock nacional; fado só uma geração acima e só do lado da minha avó Adília e eu nunca troquei discos com o tio Alfredo. Quem me pôs a ouvir fado (já quase com barba) foi a Mísia e o Paulo Bragança, foi deles que fui para a Amália e o Marceneiro, não o contrário.
Agora os jornais enchem-se de elegias, mas eu lembro-me de como ela era recebida em Lisboa quando apareceu: literalmente apupada numa Grande Noite do Fado, chamavam-lhe “a gueixa” (alcunha que partilhava com a Paula Moura Pinheiro, provavelmente pelos looks pálido e negro, batton vermelhão), já ela tinha uma des Arts et des Lettres da República Francesa e ainda havia quem resmungasse com a sua inclusão nos murais do Museu do Fado, esta terra às vezes só à bomba!
Mas a Mísia, bendita, era um mau feitio da porra e, como diria a tua sobrinha da Josefa, uma mulher que fazia pela vida: insistiu, insistiu, insistiu e calou-os a todos, aos cabrões. Pequenitates e com um ar mais duro que os pregos, cruzei-me com ela mais do que 10 vezes em manifestações sempre do lado certo.
Ainda não lhe ouvi a música desde que soube.
Comentários
Enviar um comentário