GNR Feira da Luz, 2024.

Eu já escrevi sobre isto, e depois de me reler acho que foi mais ao menos definitivamente: há casas que têm de cair, por mais que as amemos, ou estão vivas ou caiem.

Eu, francamente, já ia preparado para o velório, mas em rigor nada nos prepara para o velório dum amigo ou a queda duma casa que amamos, por mais inevitável que a saibamos. Há quem envelheça melhor do que quando era novo (como a sô dona Amália ou o Johnny Cash) mas essa nunca seria a história do Reininho e do Grupo Novo Rock... ou morria novo e directo para o Panteão ou lenta decadência até ao silêncio de uma reforma mais ou menos mísera (conforme tenhamos conseguido poupar umas coroas no surf da coca).

Como pop isto é um exemplo a nível mundial: por mais que o Reininho quisesse muito ser o Bryan Ferry, e depois o David Byrne, a verdade é que nem ele nem o Jorge nem o Tóli nem o permanentemente sucessivo guitarrista sabem como mas fizeram uma coisa muito muito muitíssimo à frente: uma cena musicalmente interessante cheia de letras muito cabeça que se aguentam décadas e décadas depois e que o bom público português da minha geração (para nossa grande honra) se apercebeu imediatamente.

Os Coliseus de 1990 estavam cheios de vomitar (eu algures ali na primeira fila a segurar o meu amigo Filipe Rato que queria subir a barreira para beijar o Reininho); dois anos depois foram o primeiro número português a encher um estádio (depois de meses e meses da rádio discutir se tal coisa seria possível) e em Alvalade estávamos lá todos antes de nos conheceremos, a única pessoa exactamente da minha geração que não estava lá foi a minha prima Adriana que já ao tempo era nec plus ultra gótica e não dava para números destes.

O Reininho nunca cantou nada (nunca teve voz nem soube ou quis saber as putas das letras), o Tóli sempre foi a coluna dorsal e o Jorge a alegria saltitante... o que se nota (como rachas nas paredes) é a absoluta desistência na falta de energia do tio Rui... mumble mumble boca encostada ao microfone e se a plateia de cinquentões não dá (porque coitadinhos em rigor estamos quase tão mal como ele) ele também não... há casas que têm de cair, por mais que tenham sido magníficos palácios. Vê Alvalade e lembra-te que é 1992 e a tua irmã e eu (e mais 10 velhos nossos amigos que tu conheces) temos 16 anos e estamos lá.


 

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