“Daqui Houve Resistência” 5 episódios, 2025.

Notas rápidas até porque já conversámos...

A vê-lo com a tua sobrinha, eventualmente com a mana também, primeiro estava cheio de medo como sempre; menos convosco mas como sempre pelo guião mas, por uma vez (tirando o infame 4º episódio “A Luta Operária”) sem razão: a coisa é cuidada, real, bem escrita, nalgumas curvas até brilhante (as alucinações da estátua no último episódio, o pide a dar o bafo no retrato do Botas para o polir deu reais aplausos), o som é sempre bom, os figurinos correctíssimos, a cenografia luxuosa (nota-se especialmente no episódio da LUAR, as matrículas antigas espanholas e francesas... uma das personagens a fumar de um antigo maço de Ritz, é dum luxo inaudito na tv da tunga, barato mas carinhosamente cuidado... no IMDb não sei quem fa z o quê na tradução da gringa: se a Sofia Silva do set dresser, se o Alves ou o Bernardino da property ou o Guimarães da art direction, mas alguém andou a trabalhar muito muito muito bem), mas por partes:

A Fernanda Bernarda não saber sacar um cigarro do maço slickly: absolvição! (não é por seres nossa) mas a miúda só começou a fumar quando foi para a universidade e há de continuar a fumar às escondidas dos pais até ao divórcio 30 anos depois por isso faz sentido para a personagem (aqui entre nós, não tens de começar a fumar ou a andar a cavalo ou a saber espadeirar, mas se calhar esgrima, equitação ou pelo menos habituar o corpo a sacar um cigarro dum maço para a boca e acendê-lo sem olhar é capaz de vir a ser útil);

o Alberto Martins é uma viga e tinha mesmo aquela barbinha ridícula, acertámos na barbinha errámos no tamanho do actor (que esteve muito bem... mas pouco);

porque é o coronel na messe do primeiro episódio está a comer uma maçã de faca e garfo??! (aqui entre nós os coronéis são todos uns cabrestos e em rigor nem um comodoro come uma maçã de faca e garfo);

a MERDA das malas vazias!!! mas será que os figurinistas não percebem que não há actor tão esperto que as finja cheias nem um espectador tão burro que não as aperceba vazias??! TOPA-SE SEMPRE!! Sou só eu??! Qual é a dor de meter um tijolo dentro das malas que é suposto estarem cheias??! nunca hei de perceber;

os actores têm sempre mais 10 quando não mais do que as personagens, mas esta é tão costumeira que quase já não me queixo... se o Nolasco para o Guimarães não é um salto por aí além (37 anos em vez de 30) o Capelo para o Palma Inácio são para aí uns 20 anos de diferença (mas vá, ainda bem para o Capelo que depois do Otelo, ainda me faz um Palma Inácio... com um bocadinho de raridade ainda o vejo a fazer de Humberto Delgado) e eu continuo lá no fundo a achar importante mostrar quão novos eram estes tipos, nem que seja para nos contrariar a tendência de esperar uns “paizinhos” encanecidos que nos resolvam as merdas;

o “Andrade” (o Mário Moutinho para mim há de ser sempre o “Andrade”) a fazer de director mau, vá, não tão mau assim mas situacionista que chegue para correr com o Santos Simões (eu adoro quando atiras um gajo dum lado ao outro: o Ricardo Pais a fazer o Marcello no “Capitães de Abril”);

o grande Miguel Borges num papel (relativamente simples) mas que ele faz com (enorme) mestria... o pide dele não sendo complexo não é simples, é absolutamente coerente e aberto à realidade, por mais que simplesmente a recuse (mas esse gajo existe, até mais que os militantes empedernidos do Durães ou do João Pedro Vaz, o militante espectacular do Capelo ou a Joana d’Arc, por alguma raz~ão de Viseu, da Carolina Amaral)

...

e depois temos o 4º episódio da “Luta Operária”... catástrofe completa. A criança pergunta se toda a gente vive em cavernas e eu não sei que lhe diga para além de “é uma grabnde metáfora”, isto é tão basicamente maniqueísta que dói, a ideia da PIDE não prender “porque não tem provas” é funcionalmente reaccionária e ahistórica, este episódio é um falhanço tamanho que quase (ou mesmo) afunda a série toda... eu não quero parecer um editorialista do “Avante!” mas há aqui uma incompreensão total e absoluta... PIDE à procura de provas, eleições no sindicato pelego que se a lista cripto-comunista ganha é uma vitória, a franca absoluta ausência de violência...

Sejamos honestos: a PIDE usava luvas com a élite (fosse ela de que cor fosse), fazia tudo por tudo para não se meter com a tropa e a Igreja (só agindo mesmo em casos de desespero)... mas com operários borra-botas, povo analfabetizadozinho fosse dos fabricos de Guimarães ou das courelas da puta que os pariu, aí, filho, valia tudo: porrada a sério era todos os dias, mortos de pancada era dia sim dia sim, e volta e meia caía um “suicida” na varanda da embaixatriz italiana cuja residência calhava a ser nas costas da António Maria Cardoso.

https://www.youtube.com/watch?v=PVLZlHvBRtU

aaahh a olhar para o IMDb apercebo-me do nome da tua personagem, ipso facto, no meu telemóvel passaste a ser Fernanda Bernarda (já agora uma tipa mto séria, sabes?)