“Secrets d’Histoire s19 e07 La marquise de Brinvilliers et l'affaire des poisons” France 3, 2025.
Nova atirada a esse enorme mAIOR CAMBALACHO da História – definição do quanto mais escarafunchas mais merda sai – a marquesa de Brinvilliers tem um amante um bocado duvidoso e montes e montes de dividas e de repente a malta à volta dela começa a cair para o lado, é pais e irmãos a darem-se-lhes doenças súbitas uns atrás dos outros e a marquesa a acumular heranças ao mesmo tempo que acerta contas (antigas e muito feias) com a horrenda família... e o amante que é muito dedicado à química... a coisa toma proporções que obrigam à intervenção do nascente estado e parece coisa para provar que o estado nasceu exactamente para pôr cobro à velha regra de que se nasceste marquesa podes envenenar a torto e a direito... a Brinvilliers lixa-se mesmo, mas a sujeira que foi aberta caga tudo à volta e o Luís XIV justíssimo diz “até às últimas consequências” e mete o cão dos cães, o primeiro polícia, o primeiro detective, Gabriel-Nicolas de la Reynie (se esta história fosse angla toda a gente a conhecia porque haviam montes e montes de filmes e séries sobre isto), o de la Reynie fuça e fuça e desenterra do bas-fond parisiense as bruxas de pacotilha que fornecem “filtros de amor” (mistelas à base de cabelo dele e sangue menstrual dela) e “pós de herança” (arsénico) à malta da alta... o desfile de condensas, princesas e marechais põe o Luís de sobreaviso o suficiente para deslocar o inquérito para uma chambre ardente (um tribunal secreto e extraordinário que se reunia de dia mas de cortinas cerradas e logo, velas acesas, para manter o absoluto sigilo) mas a coisa só piora à medida à medida que o Gabriel-Nicolas fuça ainda mais fundo: na catolicíssima França que se prepara para renegar Nantes e mandar os calvinistas para a faca, a catolicíssima altíssima nobreza de Versailles participa em missas negras (em latim cantado ao contrário e cruzes de pernas para o ar por padres despradados e excomungados) pagas a peso de ouro e com o side-dish de bebés não baptizados sacrificados... todas as fantasias ou quase do satanic panic dos anos 80 só que a sério... e horror dos horrores, que nome é que salta no meio do “inquérito”?! Françoise-Athénaïs de Rochechouart de Mortemart, marquesa de Montespan, maîtresse-en-titre do rei (que é como quem diz verdadeira esposa) há 15 anos e mãe de 7 filhos da Maison de France...
Luís dá-se-lhe o horror ao aperceber que a Athénaïs despachou pelo menos uma outra amante e de certeza o fez beber um monte de horrores e participou pelo menos numa missa em que um bebé foi esfaqueado; ordena o processo fechado num cofre de ferro fechado à sua guarda pessoal e decreta o abafo total do caso. Décadas e décadas depois, na hora da morte, uma das últimas coisas que se lembra de fazer é abrir o cofre e queimar a papelada toda na lareira do próprio quarto.
Sem saber que o bom Gabriel-Nicolas de la Reynie, cão dos cães, o primeiro polícia, o primeiro detective, antes de lhe entregar o processo, contra as ordens, o manda copiar e depositar no arquivo do donjon de Vincennes onde, empoeirado, o havemos de redescobrir e só por isso sabemos exactamente o nível de escumalha que abrigavam os espelhos dourados de Versalhes.
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