Roma, Setembro de 2025.

Viajar com a tua sobrinha e a tua irmã passa a ser diferente de viajar com a tua irmã. Correr para Roma na Javard’Air, atravessar a zona da Termini e arrastar o malão quilómetros. Começar logo na dieta de comida mto boa e gelados.

Villa Borghese no tickets e começa o calvário das lojas, Forno da Milvio para pizza al taglio, Trastevere. O Coliseu e os fóruns debaixo duma tempestade de encharcar cueca, seca no corpo e logo outra chuvada Capitólio acima e Capitólio abaixo, perguntar às senhoras da farmácia por uns maritozzi bons aqui perto e assistir ao debate. A tua irmã lava os pés com lixívia para o desbote dos sapatos e o simpático do hotel, nem de propósito, dá-nos uma máquina de café e nós vamos-lhe ao cambão do restaurante para descobrir uma pérola no La Lampada (Via Quintino Sella 25), com uma óptima gelataria a um passo na Come Il Latte na Via Silvio Spaventa, tudo em cima de casa na Via Sicilia em frente ao Conselho de Ministros da Meloni. Fumo na varanda a olhar para o fascista sensível ao ar condicionado que tem sempre a janela aberta e às vezes se esquece de apagar a luz à noite. Lojas e lojas e mais lojas, demasiado lojas. Vaticano, o nosso guia belga tão blasfemo que tem de ter um cardeal de namorado para manter a licença de guia, a francesa do “AU SECOURS!!”, a queda da tua sobrinha com fardas do século XVI. Ainda vamos à Navona mas eu já piso ovos, amanhã vou descobrir que tenho que meter o creme gordo antes para não assar tudo o que ando, o Jeff faz anos aqui e vemo-lo no frio e no vento a escavar. Panteão e uma mãe sul-americana a ler o resumo do Castel Sant’Angelo à família que olha para o Panteão, lojas e lojas e lojas e no fim eu sou capaz de ser o que comprei mais coisas: camisas e cuecas na Uniqlo, Eco e Toppi e uma t-shirt em duas livrarias diferentes e ainda bebo um café sem os empregados se aperceberem que não sou local (o que se me enfia imediatamente um chícharo no cu). Piazza di Spagna a ver as bimbas a fazerem-se fotografar pelos mártires namorados e mães (eu até percebo a motivação, a lógica interna da bimba do Insta, hei-de ir daqui até Meca a pé e ninguém me há-de explicar a motivação, a lógica do ajudante, do enabler). Mando (em bom francês) uns velhinhos franceses na direção errada e sem querer, mas se calhar no fim pode ser que tenham a capacidade de gozar estarem perdidos em Roma em vez de só chegarem à Fontana di Trevi (nenhum deles era a Anita Ekberg). Atravessamos os jardins da Paolina, a tua irmã compra uns óculos escuros e um clássico da culinária, ainda vemos um Panda. Mais maritozzi e o Palazzo della Civiltà Italiana ao longe outra vez, as ineficiências habituais da Javard’Air, criancinhas muito bem comportadas no voo de volta, avó Teresa na Portela.

Roma e Lisboa (e isto pode ser só a minha imaginação) têm a mesma luz, em Madrid é mais amarela, em Paris é mais branca, em Londres mais dura de azul.. em Roma é tal e qual, chego a Lisboa e preciso de uma tarde a ouvir fado para recolocar o corpo na geografia porque parece que há sempre um pedaço que fica agarrado lá a Roma.


 

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