“The Post” Steven Spielberg, 2017.
Este começámos a ver (a tua irmã e eu) o ano passado, mas só
acabámos já do lado de cá. O filme é virtuosamente bem feito (também era melhor,
do Spielberg) sobre um tema à partida importante (a revelação pelo Washington
Post de toda a malandragem política à volta da guerra do Vietname) mas isso,
estranhamente, não é o mais interessante que se passa aqui...
O interessante é que este filme não é para nós, os comuns
mortais, mas sim para os amigos bilionários do tio Steven; é uma carta a
exortar à resistência a vizinhança lá do bairro de quadrilianários onde vive o
Spielberg. O heroísmo da história distila-se todo na personagem da dona do
jornal: a Kay Graham (cuja família vale qualquer coisa como 1,8 biliões de
dólares hoje em dia) e não no director Ben Bradlee (que faz a luta toda pela
publicação da coisa) ou no whistleblower Daniel Ellsberg (que arriscou 115 anos
de cadeia, safou-se numa “tecnicalidade” por mais que agora o medalhem a torto
e a direito)... isto tudo com (mais ou menos) subtis notas de feminismo
espalhadas ao longo da coisa... o Steven é um mestre.
O Steven é um mestre mas este filme não é para nós, é lá
para os amigalhaços quinquilhanários dele se convencerem que on the long run é
um bom investimento resistir ao Trump e que é tudo win-win,
que é boa imprensa ser-se bom e dá dinheiro como aconteceu à tia Kay.
Independentemente disso o filme é bom, uma lição de cinema,
até com rebites virtuosos raros num realizador tão americano tão pão-pão
queijo-queijo como o Spielberg (ver o plano contínuo na casa do Bradlee à volta
dos papéis e dos advogados do jornal):
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