“A Herdade” Tiago Guedes, 2019.


 

aahhAhh :) espantoso! Eu lembro-te da tua careta quando disseste que tinhas visto isto e por isso não o procurei... mas tudo o que é grande encontra o seu caminho, e esta desgraça também LOL..

Por partes que isto é caso disso: o bom e o mau (sem vilão)...

o bom... este moço sabe apontar uma câmara, há momentos verdadeiramente poéticos quando ele está só a filmar (o que quer dizer que há aqui um director de fotografia a demonstrar o princípio de Peter)... isto também está cheio de bons actores: eu gosto muito do Albano Jerónimo, sempre gostei muito do Miguel Borges e sempre achei a Sandra Faleiro muito forte, para não falar nas discretas presenças (que parecem mais fortes ainda porque têm pouco texto ipso facto pouco disparate para dizer) da Teresa Madruga ou do Cândido Ferreira. Mas quanto a bom é basicamente isto... e o texto é o que nos leva ao mau.

E é mau... é mesmo mesmo muita mau, péssimo não começa a descrever este guião que não sabe se quer ser comentário histórico ou telenovela e acaba a falhar dos dois lados. O guião é tão mau que chega a ser cómico não fosse demasiado cedo para gozarmos com a miséria...

Então temos este bom patrão, que é uma besta mimada (mas traumatizada porque o paizinho era bruto) a não ser em termos de relações laborais (no Alentejo do Estado Novo!) tão bom patrão que se vê perseguido sucessivamente por fascistas, comunistas e os bancos... sempre a tentar fazer o seu melhor no puro interesse dos trabalhadores: a sacar comunas à PIDE, a prometer trabalho aos vermelhos da reforma agrária (fuck me... os comunas que não saem de cima da carrinha na ocupação é a cena mais surrealmente cómica da década... se é isto que o Tiago Guedes acha que foi a reforma agrária se calhar temos a explicação para este merdelim todo!), a vender arrozais para manter empregos (ia chorando de empatia com os pobres latifundiários da nação)... passamos 10 minutos no início a estabelecer como o tipo sozinho é um poder, um estado dentro do estado, um potentado.. e o resto do filme a tentar vender como ele é uma vítima de toda a gente, coitadinho.

Em cima disso enxertamos-lhe uma cunhada que se subentende que o patrão gosta mais que a própria esposa (non sequitur), um filho que ele odeia de pequenino sem qualquer razão ou explicação, a criada em que o patrão se põe (para grande surpresa da audiência que não sabia que o direito de pernada ainda não tinha sido extinto no Alentejo dos anos 70... embora em rigor, sendo a mulher do feitor é quase de mau tom) e finalmente o grande caso dos meios-irmãos andarem a esfarrapar pelas searas que culmina na patética cena final do cavalo abatido... isto é escrita demasiado banal telenovela de antes do telejornal, mas produzido pelo Paulo Branco e somehow acaba enviado para o Festival de Veneza e para os Óscares... no ano em que se fez o "Variações" espantoso!

Como se isto tudo não chegasse ainda temos o cabelo do Albano velho a avançar e recuar conforme a cena é interior ou exterior, o Diogo Dória muito pançudo a arrastar a sua irritante existência pelos nossos ecrãs e finalmente (porque não há cagalhão sem varejeira) esse cancro das artes cénicas que é a inevitável senhora dona Ana Maria Brito Bustorff Guerra, a pústula das pústulas do mais escuro perineu das artes nacionais... que um dia alguém me há de explicar, eu sei que não é nem a beleza nem o talento... por isso fico à espera.   

Francamente, isto ficou a um milímetro de ser tão mau que é bom... mas até aí falhou.

Comentários

  1. Mas na altura foi tudo a falar bem! Uma vergonha... Ainda quero ver o "Tristeza e alegria na vida das girafas", também dele, mas parece melhor

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