“The Sandman” 12 episódios, 2022.

Tu crias uma coisa e depois há alguém a querer transpor o que fizeste dum meio para outro, como se fosse natural agora... dançar a “Guernica” do Picasso.

Escolher, como o Alan Moore, dizer não tenho nada a ver com isto e os monstros que vão surgir são vossa exclusiva responsabilidade parece-me natural... será que a culpa é minha quando um vitral inspirado numa escultura que esculpi sai uma cagada, a culpa é minha? Ainda não aprendemos que o meio é a mensagem?!

Mesmo assim há quem, ao contrário da fanática obstinação do mago Moore, tente transpor enquanto controla a transposição... a coisa pode correr mais ou menos correctamente: o “300” e mais ainda o “Sin City” pelo menos o primeiro, pode correr horrendamente como em “From Hell” ou na “Liga...” ou mais ou menos mais ou menos como, acima e abaixo, nos “Hellboys” ou no “V for Vendetta”, mais abaixo no “Preacher”... isto é tudo mto complicado.

Seja lá como for o Neil Gaiman, por uma ou outra razão resolveu enfiar-se de cabeça e até ao fundo nesta... e valeu a pena.

Eu não sou um fanático do “Sandman”... dos 75 só ainda li 35 e o último foi publicado 2 anos antes de tu teres nascido... mas tenho-os todos e vou evoluindo lentamente e já tenho um boneco “magna opus” para postar quando acabar porque há muito tempo que sei que é uma magna opus.

Mas quase tão extraordinário como acertar uma vez é transportar o acerto dum meio para outro.

Esta “adaptação” é a melhor que já vi e isto é colocando-a lado a lado com o Kurosawa a mexer com o Shakespeare...

claro que ajuda ter a Vivienne Acheampong, o gigantesco Charles Dance, o Bill Paterson, o Boyd Holbrook, a Joely Richardson, a Jenna Coleman (já não Victoria no meu cérebro), a Nina Wadia, o Sanjeev Bhaskar e a Meera Syal (portanto 3/4s dessa esquecida obra-prima da comédia MUNDIAL que foi o “Goodness Gracious Me”), o maravilhoso David Thewlis, o Patton Oswalt de corvo, a Gwendoline Christie magnífica de Lucifer, o Derek Jacobi e o meu querido Stephen Fry, o Mark Hammil de Pumpkinhead neste ponto é só exibicionismo de elenco...

Seja como for, a identidade da história é mantida dum meio para o outro.. até o facto de o Gaiman começar forte mas não saber muito bem o que fazer com o monumento que lhe saiu das mãos... que é evidente na BD e é melhor gerido aqui (em gde. medida porque há gente tão boa no guião que são capazes de dizer ao Gaiman “não tentes colar sequer”) e porque o elenco está carregado de génios.

Total e absoluto fã:

https://www.youtube.com/watch?v=ZJXamnPUm0I

tudo o que vi ainda cai no que já li, tem de ser bom sinal mandar-me ler o resto.


 

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